Orixá Obá em Performance – Influxos Artaudianos via Mitodologia em Arte
Resumo
O ritual do mistério é entendido e ouvido por Obá. Essa orixá feminina iorubana, considerada rainha das águas revoltas e arquétipo do feminino ferido. Fundadora da sociedade de Elekô que cultua a ancestralidade feminina, onde o rito só participam mulheres. Ela pune os homens que maltratam as mulheres, pois é a deusa protetora do poder feminino. No Teatro da Crueldade (ARTAUD: 2006), o corpo está em plena potência de afecções, destrói as coerções e as castrações, produz novas possibilidades simbólicas, desnuda-se e reage diante da força de sua fragilidade, pois perturba o repouso dos sentidos. Esse corpo segue o fluxo de sua natureza do inconsciente, cria gestos gratuitos e personifica o arquétipo através da cena enquanto cerimônia. Esse corpo dança com seus próprios mitos espirituais, perigosos, impossíveis e inapreensíveis. Nesta mesma trança, encontram-se a Antropologia do Imaginário (DURAND: 2005) e a Antropologia da Performance (TURNER: 2013) que estudam o sentido de mundo através da imaginação e os símbolos poderosos que surgem numa performance, permitindo que o artista performático se movimente diante de seu fragmento de vida, trançando com o devir-artista-persona e se torna o não-não-eu, diante da decifração de si, podendo inclusive, ser um Mito Pessoal (KRIPPNER: 2008). Este trabalho objetiva aprofundar a partir da análise de um caminho criativo, as interfaces entre antropologia e arte, sendo que a antropologia bebendo na fonte da arte para encontrar a subjetividade e a arte bebendo na fonte da antropologia para sair de si. Sobretudo, através dos influxos artaudianos na travessia performática via Mitodologia em Arte, termo esse criado pela phD Luciana Lyra que aborda, antes de tudo, sobre o poder do mito, enquanto potencialidade espiritual da vida humana, aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente, captando mensagens dos símbolos (CAMPBELL: 1988).Referências
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