Atlântico de Paullo Fonseca: autobiografia como cartografia dos afetos na diáspora

Resumo

A comunicação analisa a obra “Atlântico” do bailarino soteropolitano Paullo Fonseca. A obra possui um caráter híbrido cuja encenação transita entre a performance, o storytelling, a autobiografia e as poéticas diaspóricas da dança negra, elementos que se articulam na construção de uma dramaturgia para a cena contemporânea. A reflexão proposta pelo autor fricciona os elementos da cena com as abordagens elaboradas pelos teóricos da diáspora negra Stuart Hall e Edouard Glissant e com os conceitos de autoetnografia e biografia trazidos pela historiadora da dança Sylvie Fortin e o cientista social Pierre Bourdieu. Para o autor a obra “Atlântico” borra as categorias classificatórias entre os gêneros artísticos, compondo em um fazer rizomático (DELEUZE, 2011), uma cartografia dos afetos que desloca as expectativas em relação à formatação das linguagens para a cena de dança. Através da articulação de narrativas afetivas enredadas numa dramatização da memória na qual o narrador performer dança sua autobiografia, o artista esboça novos caminhos para o corpo negro na dança. Misto de atuação, dança, canto e performance o artista joga com as possibilidades da cena contemporânea e projeta uma dramaturgia cujos nexos múltiplos revelam um espetáculo depoimento, uma oralidade cênica, uma autobiografia performatizada. Movendo-se entre cartografias que enredam temporalidades, geografias urbanas, festas populares, estéticas diaspóricas negras, subjetividades e ancestralidade o artista compartilha suas memórias fisicalizadas e emaranhadas poeticamente.

Biografia do Autor

Fernando Marques Camargo Ferraz, UFBA Professor
Professor da Escola de Dança da UFBA. Doutor e Mestre em Artes pelo IA/Unesp, Bacharel Licenciado em História pela FFLCH-USP. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA, membro do Grupo GIRA: Grupo de Pesquisa em Culturas Indígenas, repertórios Afro-brasileiros e Populares. Foi Visiting Professor no Center of World Arts do College of Arts - University of Florida (2015-2016).

Referências

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Publicado
2018-03-19