Com quantos corpos se faz uma Ciranda?

  • Renata Celina de Morais Otelo Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • Marcílio de Souza Vieira Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Neste artigo são levantados apontamentos a respeito dos sujeitos que participam das Cirandas pernambucanas cuja cirandeira Lia de Itamaracá é uma referência no Estado (Pernambuco - Brasil). Verifica-se que os brincantes chegam dos mais diversos lugares e, ao reunir-se em rodas de Cirandas em praças, bares e praias, embalam-se no ritmo lento, festivo que chega vivo no corpo pela voz forte de Lia. Acredita-se que aí uma identidade corporal vai sendo gestada e sentida no encontro das mãos e na movimentação da roda, fazer peculiar dessa dança. A pesquisa objetiva compreender que corpo é esse que faz parte da Ciranda. Para realizar esse olhar trataremos, aqui, do corpo fenomenológico em sua dimensão totalizante, sem distinguir o pensar e o agir de forma compartimentada e adotaremos a fenomenologia como referência metodológica por utilizar no estudo a experiência vivida como construção do conhecimento e o corpo como base da nossa reflexão primeira no mundo. Observa-se que os corpos são muitos, diversos, com saberes e sabores, particularidades e subjetividades e que se propõem na movimentação tornando-se um só quando estão na roda, um „eu-nós‟ que dão sentidos e significados ao corpo do outro e sendo pelo outro também o seu próprio corpo alimentado numa ação em que manifestam a linguagem que seus corpos exprimem. A partir dessa discussão é possível pensar na Ciranda, enquanto dança da tradição, como uma vivência múltipla que compromete o corpo do brincante e o integra ao mundo, as coisas do mundo e por isso, ao outro.

Referências

ALVES, Teodora. Herdanças de corpos brincantes: saberes da corporeidade em danças afro-brasileiras. Natal,RN: EDUFRN. Editora da UFRN, 2006.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

OLIVEIRA, Érico José Souza de. A Roda do mundo gira: um olhar sobre o Cavalo Marinho Estrela de Ouro (Condado-PE). Recife: SESC, 2006.

VIEIRA. Marcilio de Souza. Pastoril: uma educação celebrada no corpo e no riso. Jundiaí, Paco editorial, 2012.

Publicado
2018-08-15
Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações