Anchieta e o Perspectivismo Ameríndio

  • André Gardel Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

Pensar as origens do teatro brasileiro no século XVI a partir da obra de
Padre Anchieta, sob a perspectiva da etnocenologia, do teatro como
performatividade, ritual, máquina lúdica, fenômeno espacial, e, principalmente,
como potência de recepção ativa e produtiva. Na cena pluricultural do período,
local de encontro diaspórico múltiplo, está se dando, de modo ambivalente, o
confronto e a troca entre duas civilizações estruturadas e ricas: a européia
medieval/ renascentista/ barroca e a indígena, foco central da atuação
catequética. Refletir sobre as porosidades da dramaturgia anchietana; entre
outras possibilidades, principalmente, no momento em que é reconfigurada no
contexto festivo-ritualístico de sua encenação, na ambiência selvagem tropical,
e recebida por uma cultura dotada de uma concepção de realidade muito
diferente da européia, já que corpórea e centrada na alteridade, chamada pelo
antropólogo Eduardo Viveiros de Castro de “Perspectivismo Ameríndio”.

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Publicado
2018-08-26
Seção
Estudos da Performance