Relações entre teoria e prática na pesquisa e na criação teatral, um exemplo na Usina do Trabalho do Ator

  • Gilberto Icle Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

Apresenta-se uma reflexão sobre as relações – e possíveis impossibilidades de
dicotomização – entre prática e teoria na criação teatral. Para tanto, descrevem-se alguns procedimentos criativos empregados no processo de construção de espetáculos do grupo gaúcho UTA- Usina do Trabalho do Ator e sua relação com os procedimentos pedagógicos de preparação dos atores. O principal procedimento analisado é o que se convencionou chamar de maneiras de burlar os clichês, por intermédio do qual o grupo, cujo autor deste texto é ator e diretor, procura evitar clichês, afastar resoluções primárias e elaborar peripécias narrativas. Tais procedimentos visam a possibilitar a emergência de lacunas narrativas, nas quais o público, por sua vez, pode – e mesmo deve – inserir sua própria experiência, sem, contudo, perceber-se fazendo. Tais procedimentos engendram-se a partir de um processo que reúne em si aspectos teóricos e aspectos práticos, fazendo avançar cada uma das duas dimensões num amálgama criativo. Teoria e prática, assim, configuram modos de uso do corpo e, consequentemente, da presença, como possibilidade de prática para além e para fora do campo hermenêutico. Trata-se esse campo como dimensão da interpretação, ou seja, dimensão do significado em oposição à materialidade corporal da comunicação. Os procedimentos aqui descritos configuram, por fim, modos de utilização do corpo imersos numa cultura da presença.

Referências

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1999.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Production of presence: what meaning cannot convey. Stanford: Stanford University Press, 2004.

GUMBRECHT. Hans Ulrich. O campo não-hermenêutico ou a materialidade da comunicação. In: _____ .Corpo e forma. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.

PASSERON, René. Da estética à poiética, Porto Arte, Revista do Mestrado em Artes Visuais. UFRGS. Porto Alegre, v.8, n.15, p. 103-116, nov. 1997.

PRADIER, Jean-Marie. La scène et la fabrique des corps : Ethnoscénologie du spetacle vivant en Occident (Ve siècle av. J.C. – XVIIIe siècle). Bordeaux : Presses Universitaires Bordeaux, 2000.

Publicado
2018-08-30