A potência autoficcional na construção da cena performática

  • Tania Alice

Resumo

O artigo tem por objetivo articular o processo de criação performática com o
conceito de autoficção, mistura entre ficção e realidade, elaborado no campo
da criação literária nos anos 90. A partir de uma experiência de criação
realizada pelo Coletivo de performance Heróis do Cotidiano que resultou em
um work in progress intitulado Por que você é pobre?, surgiu o
questionamento de entender por quê a utilização de material autobiográfico
causava um aumento da potência cênica e performática, desde que
articulado com uma inquietação de ordem social. O artigo visa problematizar
esta questão, partindo dos dados autobiográficos que surgiram na equipe de
criação sobre a questão da pobreza, tentando entender como os movimentos
realizados a partir de matrizes pessoais foram estabelecendo um diálogo com
uma dimensão maior, social, política e energética. O intimo da autoficção,
elaborada a partir de memórias corporais e afetivas, ativa então uma
memória social mais ampla, que por sua vez potencializa a capacidade de
afetação do gesto artístico, inscrevendo-o no campo do "artivismo", diluição
das fronteiras entre arte e manifestação social.

Referências

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Seção
Territórios e Fronteiras da Cena