Didi, o mendigo renunciador

  • André Carrico
  • Neyde de Castro Veneziano Monteiro

Resumo

Criado em 1960 pelo cômico Renato Aragão, Didi é um ícone da cultura
popular de massa. Re-significando um conjunto de procedimentos
preexistentes, legou à cena cômica nacional um repertório de 69 bordões
e 29 lazzi. Nordestino e mal tratado, esperto e independente, rei da
facécia e do improviso, Didi pode ser definido como o modelo que o
antropólogo Roberto Damatta (1991) denomina de renunciador -
personagem que promete ao povo um universo social alternativo ao
abdicar de prestígio e riqueza. Segundo o ensaísta, esse tipo recusa a
vida social, habitando os interstícios da sociedade e escolhendo a
mediação das injustiças sociais através da vingança justificada. O destino
de andarilho de Didi incorpora a utopia de um homem que almeja ser
livre. A vagabundagem e a energia na luta pela justiça são características
ambivalentes que completam a persona do trapalhão e reforçam sua
graça como tipo midiático emblemático. Aos 53 anos, o mendigo
renunciador sobreviveu aos Trapalhões e segue a despertar interesse e
identificação em diferentes gerações e faixas etárias, ao encarnar os
assuntos e as quimeras do público popular.

Referências

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:

o contexto de François Rabelais., São Paulo: ed. Hucitec, 1987, 419 p.

BOLOGNESI, Mário Fernando. Palhaços. 1. ed. São Paulo: Editora

Unesp, 2003. v. 1, 293 p.

COLEÇÃO OS TRAPALHÕES FORÉVIS. Produção Editora Abril. São

Paulo: Editora Abril, 2005. 3 dvds (aprox. 378 min.), cor, português, dolby

digital estéreo 2.0.

DAMATTA, Roberto. Carnaval, malandros e heróis. Rio de Janeiro: ed.

Guanabara, 1991, 287p.

PROPP, Vladímir. Comicidade e riso. São Paulo: ed. Cortina, 1992, 215 p.