Dramaturgia como operação fantasmática: ficcionalização da seca e subjetivação política no trabalho da Cia. teatral Engenheiros da Arte

  • Edilberto Mendes
  • Alex Beigui de Paiva Cavalcante

Resumo

O artigo aqui proposto é parte de uma pesquisa que investiga a produção
dramatúrgica como operação fantasmática. Mais especificamente, se interessa
pelas formas como a releitura e reescrita cênica de fatos históricos produz /
põe em funcionamento regimes de percepção e sensibilidade / estruturas de
sentimento que atuam na configuração e reconfiguração de identidades
culturais. O campo empírico escolhido para essa reflexão é o trabalho do grupo
teatral Cia. Engenheiros da Arte, de Senador Pompeu, Ceará, na encenação
anual da peça Campo de Concentração de 32, de Valdecy Alves, que atualiza a
memória social referente à experiência histórica da seca de 1932. Aplica-se as
noções de “fantasma”, de Giorgio Agamben, e de “figura”, em Erich Auerbach,
para recuperar a emergência, ao final do século XIX, de um empreendimento
estético pelo qual o sofrimento da seca se transfigura numa imagem / fantasma
– o retirante – que agencia o sentimento de compaixão, tornando-o um modelo
de ação social, de subjetivação política. A pesquisa efetua uma leitura das
reaparições dessa figura na produção dramatúrgica contemporânea, dos
modos como ela metamorfoseia-se e move-se, influenciando e organizando
concepções e ações sobre si mesmo e o outro.

Referências

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