As estruturas do jogo na criação de roteiros e textos teatrais

  • Iremar Maciel de Brito

Resumo

Qualquer atividade que imaginarmos, para receber o nome de jogo, segundo o
pensamento de Huizinga, necessita ter alguns elementos que fazem parte de
sua essência. Isto é, todo jogo tem um espaço, um tempo, um objeto a ser
conquistado e um conjunto de regras. A mesma coisa acontece com o jogo
teatral, cuja ação dramática circunscreve-se num espaço, ocorre durante um
tempo definido, busca a conquista de um objetivo e está sujeito a um conjunto
de regras. Assim podemos criar roteiros de jogos teatrais que possibilitam a
criação de performances ou mesmo a escrita de um texto. Criar um jogo teatral
é, antes de tudo, responder a algumas perguntas básicas, inerentes a toda
criação dramática: o que acontece, onde, com quem e como? Portanto, o jogo
teatral começa com um estado inicial, onde surge uma força perturbadora ou
peripécia, mudando o rumo lógico dos acontecimentos. Desenvolve-se esse
novo estado, até que surge uma força esquilibradora, ou seja, uma segunda
peripécia, criando-se a partir dela um estado final da narrativa. Assim, criar um
jogo teatral é mostrar um problema, cênicamente, desenvolver a busca de sua
solução e, finalmente, encontrar a solução. Esquema da sequência de um jogo
teatral como proposta de criação de um roteiro ou de um texto dramático: 1 –
Situação inicial - É o ponto em que começa a narrativa teatral. (Exemplo de
roteiro de um jogo teatral: Situação inicial: as pessoas estão em casa,
recebendo uma velha desconhecida a quem deram abrigo.) 2 – Peripécia
(mudança) - Alguma coisa que acontece, mudando completamente a
sequência lógica das ações. (Exemplo: Uma carta é colocada por baixo da
porta.) 3 – Desenvolvimento da nova situação - A nova sequência desenvolvese,
a partir de sua própria lógica. (Exemplo: O velho quer ler, mas não encontra
os óculos. – As outras pessoas da casa tentam ler, mas ou não conseguem
decifrar a letra ou são analfabetas. Como todos procuram os óculos.) 4 –
Peripécia (mudança) - Surge uma nova mudança e instaura-se um nova
sequência, com uma nova lógica. (Exemplo: Finalmente encontram os óculos.
O velho lê. A carta diz que a senhora X que está entre eles é uma assassina
fria e perigosa, por isso certamente vai matar um deles. 5 – Situação final –
Consequentemente, atingi-se um estado final, onde as expectativas abertas
pelas peripécias chegam a um fim. (Exemplo: Armam um plano e prendem a
senhora X.) Pretendemos nesse trabalho propor mais um caminho de criação
da narrativa de roteiros e textos dramáticos, a partir das técnicas utilizadas na
estruturação do jogo.

Referências

BROOK, Peter. A porta aberta. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,

COURTNEY, Richard. Jogo, teatro e pensamento. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1980.

GREIMAS, A.J. Semiotique narrative et textualle. Paris: Larousse, 1973.

HUIZINGA, Johan. “Homo ludens”. São Paulo: Perspectiva, 1996.

TODOROV, Tzvetan. Estruturas narrativas. Ed. Perspectiva: São Paulo, 1970

PROPP, V. Morphologie du conte. Paris: Seuil, 1970.

UBERSFELD, Anne. Para ler o teatro. Tradução de José Simões. São Paulo:

Ed. Perspectiva, 2005.