Tudo é mistura?

  • Cássia Navas Alves de Castro

Resumo

Obras de dança são compostas de conteúdos plurais, potencializados pela
transmissão de metáforas corporais, em diferentes performances. Desde
sempre produto de misturas, a discussão sobre a aparência que assumem
enquanto objetos de estrutura, estudo e fruição híbridos (mestiçosmiscigenados)
alarga-se no pós-moderno das artes, constituindo bases para
um debate contemporâneo que toma o espaço anteriormente ocupado pela
constatação da diversidade entre diferentes (NAVAS:1999). As formas de sua
articulação estabelecem-se de acordo com os modos de relação de
coreógrafos e intérpretes com a arte e história em que se inserem ao longo de
extensos ciclos de realização, partilhados entre muitos. Resultados deste
processo, temos ações em que articulam miríades de informações
incorporadas em discurso coreográfico, a ser analisado a partir dos princípios
das matrizes: sonora, visual e verbal (SANTAELLA: 2001). A partir da
constatação de que “tudo é diverso”, os componentes desta diversidade, quase
imperceptíveis posto constituírem em anteparo para estudos mais
aprofundados (NAVAS:1999) podem ser analisados por sua redundância ou
originalidade, em composições que lhes garantem, ou não, a presença, ainda
que temporária, em circuitos de validação mercadológica e acadêmica. Nestes,
as discussões em torno da nominação de obras resultantes de processos de
miscigenação entre elementos, têm gerado debates múltiplos, muitas vezes
estancando discussões mais aprofundadas sobre as relações entre os
diferentes que irão compor os híbridos, que podem ser mestiços, que podem
ser miscigenados, etc., sucedendo-se vórtices de conversas aparentemente
infinitas. Além disto, o debate sobre a miscigenação e mestiçagem teve seu
foco, num mundo pós-colonial, em torno do que se observa nas colônias,
encaradas como caldeirões culturais (melting pots), onde se processavam
experiências que acompanhadas por pesquisadores distantes destas
realidades mestiças, foram estudadas de “fora para dentro”. Na dança, a
discussão sobre mestiçagem e/ou miscigenação pode apontar para a mistura
de elementos de que se compõe a própria dança, realizada por intérpretes que
trazem em sua formação, a força do mix de muitas memórias (LOUPPE: 2000),
em uma solidão acompanhada de mestres, colegas e plateias.

Referências

ADORNO, T. (1988), Teoria Estética. Lisboa: Edições 70

LOUPPE, L. (2000). Corpos híbridos. In: PEREIRA, Roberto & SOTER, Silvia (org.). Lições de Dança 2. Rio de Janeiro: UniverCidade

JAMESON, F. (1996), Pós-Modernismo. A Lógica Cultural do Capitalismo

Tardio. São Paulo: Ática

GERALDI, S. M. (2007). O Estado de ser e não ser das artes performativas contemporâneas. Trabalho de conclusão/Laboratório II, Experimentações sobre o ator, o intérprete e o performer. Campinas: PPGARTES/IA/UNICAMP

LOBO, L. & NAVAS, C (2008) Arte da Composição, Teatro do movimento. Brasília: LGE

NAVAS, C. (1999). Dança e Mundialização: políticas de cultura no eixo Brasil-França. São Paulo: Hucitec.

NAVAS, C (2008). Interdisciplinariedade e intradisciplinariedade em dança. Seminários de Dança I- História em Movimento: biografias e registros em dança. Joinville: Festival de Dança

NAVAS, C. (2010) "Modos de fazer" na dança do Brasil: quatro traçados. In REPERTÓRIO: Teatro & Dança - Ano 13. N. 14. Salvador: UFBa

SANTAELLA, M. L. (2001). Matrizes da Linguagem e do Pensamento. São

Paulo: Iluminuras

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações