Corpo do afeto: tempo e experiência como agenciadores de memórias

  • José Eduardo De Paula
  • Armando Sérgio da Silva

Resumo

Este texto visa discutir possíveis paralelismos entre Stanislavski e
Grotowski, tendo como foco a importância sobre a “memória”, presente em
suas proposições.
A partir das noções sobre “devir” e “eficácia”, a memória será
considerada como objeto de relevância nas pesquisas de Stanislavski e
Grotowski, possibilitando discutir corpo do afeto e os processos de preparação
e criação como agenciadores de memórias.
“Período” será outra noção relevante em Stanislavski que permitirá
evidenciar uma possível proposta artístico-pedagógica que elege os processos
de preparação e criação como espaço-tempo, campo experiencial e meio
promotor de memórias.
Como salto evolutivo nos processos criativos do ator, Grotowski
debruça-se sobre as noções de “corpo-memória” e “corpo-vida”, privilegiando
esta última por parecer mais justa com a noção de “hoje–aqui–agora”, ao passo
que a primeira parece instalar no ator certo estado nostálgico e, por isso, ser
menos eficaz.
Observando experiência e prática como matérias interdependentes, é
possível considerar que viver é praticar a vida, quanto praticar a vida é
experimentar e experienciar a vida. Em ambos os sentidos estão contidas as
noções de processo, tempo-espaço, duração, memória e corpo-vida como
matérias geradas de modo relacional, via experiência.
Não poderia ser diferente com o ator, para quem preparação e criação
podem ainda ser consideradas como ambientes promotores de uma lógica de
trânsito, nos quais os processos e o percurso no tempo são vistos como
geradores e instaladores de memórias [sejam elas pessoais, coletivas,
históricas e contemporâneas, transientes e do devir], pois permitem
experimentar a vida como uma rede que entrelaça as distintas camadas do
viver, seus diferentes ambientes, relacionando-os via ação gerada e geradora
de experiências criativas agenciadoras de memórias.

Referências

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