Estudos da Presença e Etnocenologia: uma crítica à interpretação na pesquisa

  • Gilberto Icle

Resumo

Procura-se discutir as bases não interpretativas dos Estudos da Presença e
suas ligações com pressupostos da Etnocenologia. Trata-se de elencar pontos
da crise da representação nas ciências humanas e na filosofia e traçar uma
crítica à interpretação como acesso exclusivo ao mundo e à experiência. Esse
tipo de análise — próprio dos Estudos da Presença — pretende enfatizar a
dimensão de presencialidade, tangibilidade e coisidade que as práticas
performativas possuem, na medida em que são corporais por excelência,
procurando tirar a ênfase dos significados que atribuímos a elas. Assim, os
Estudos da Presença se articulam em torno do objetivo de evitar a
interpretação como único e exclusivo acesso à verdade e ao conhecimento. A
partir de Pradier e Gumbrecht, mostra-se como a interpretação, no Ocidente,
tornou-se elemento central das pesquisas e modelo de conhecimento. De fato,
a pesquisa sobre as práticas performativas implica a necessidade de
alargamento de tais possibilidades de investigação. O trabalho apresenta, com
Gumbrecht, possibilidades de pensar as formas de apropriação do mundo que
ultrapassam a interpretação: a antropofagia (comer o mundo), a sexualidade
(penetrar o mundo), o misticismo (possuir o mundo).

Referências

BARBA, Eugenio. La canoa di carta. Bologna: Il Mulino, 2001.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Production of presence. Stanford: Stanford

University Press, 2004.

PRADIER, Jean-Marie. Ethnoscénologie: la profondeur des émergences. La

scène et la terre: questions d’ethnoscénologie. Internationale de l’imaginaire.

Maison des cultures du monde. n. 5, 1996, pp.13-41.

__________________. La scène et la fabrique des corps: Ethnoscénologie

du spetacle civant en Occident (Ve siècle av. J.C. – XVIIIe siècle). Bordeaux: Presses Universitaires Bordeaux, 2000.