Hoje eu sou eu

  • Gisela Habeyche
  • Gilberto Icle

Resumo

Pretende-se articular relações entre a experiência de substituições de atores no
grupo Usina do Trabalho do Ator, de Porto Alegre, e ideias de Jacques
Rancière. A frase “hoje eu sou eu”, de uma atriz, em ensaio de substituição,
surpreendeu pela riqueza de possibilidades de significações. Quando há
ensaios para substituição, sem todo o elenco, alguns jogam papéis de outros,
multiplicando as situações de aprendizagem. Esse deslocamento de posições
oferece um novo tecido, desconhecido e incerto. Depois de vida intensa, todo
processo que desnaturalize e ajude a descobrir novas articulações é bemvindo.
Os ensaios coincidiram com a leitura de Rancière, que oferece estofos
para refletir acerca de práticas artísticas do ponto de vista estético e político.
Procura-se redimensionar o fazer teatral, a partir de ideias tais como o real
precisar ser ficcionalizado para ser pensado e o fato da arte, tanto quanto os
saberes, construírem ficções (rearranjos materiais dos signos e das imagens,
do que se vê e do que se diz, do que se faz e do que se pode fazer). Esse
cotejamento da prática teatral com o pensamento filosófico sobre arte
oportuniza diálogos entre o que se toma por real e por ficção no campo do
teatro e da vida.

Referências

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo:

EXO experimental org.; Ed. 34, 2005.

MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. Trad. Juremir

Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002.