A Precisão Cênica do Ritmo Orgânico: Um estudo sobre Akropolis, de Jerzy Grotowski, sob a Ótica do Binômio Reprodutibilidade- Espontaneidade

  • Lídia Olinto
  • Matteo Bonfitto

Resumo

Na concepção mais usual de “precisão cênica”, o enfoque dado à dimensão
estética mostra-se mais evidente que outros aspectos de ordem não formal,
como, por exemplo, as configurações psíquica e energética do desempenho
cênico. Todavia, esta acepção formalista da “precisão cênica”, essencialmente
próxima ao conceito tradicional de “coreografia”, não poderia ser aplicada de
maneira genérica. As propostas de alguns encenadores exigem do artista em
cena (ator-bailarino) uma precisão de caráter psicofísico, ou seja, uma
mobilização integral e consciente de todos os recursos atorais, físicos e não
físicos. Poder-se-ia afirmar ser este o caso de grande parte das
experimentações de Jerzy Grotowski, dentre as quais está Akropolis — uma de
suas peças mais famosas. Esta montagem apresenta algumas especificidades
em torno da precisão psicofísica e, partindo desta premissa, este artigo se
propõe a descrevê-las e discuti-las. Tendo em vista tal objetivo, serão
analisados como fontes primárias de pesquisa: o vídeo documentário da peça
Akropolis, feito pela televisão norte-americana PBL, e os textos de Ludwik
Flaszen, Eugênio Barba e Jerzy Grotowski, produzidos no período em questão
(entre os anos de 1959 e 1963). Estas fontes referem-se, direta e
indiretamente, ao espetáculo em si, ao seu processo de criação e ao
treinamento físico-vocal desenvolvido na época. Pela análise destas fontes,
será possível demonstrar que neste espetáculo fica perceptível certa
transitoriedade entre uma precisão em um nível formal, para um tipo de
precisão mais concretamente observável como psicofísica: A Precisão do
Ritmo Orgânico.

Referências

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DE MARINIS, M. 1993 – “Teatro Rico y Teatro Pobre”. In: Máscara –

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