Não coma que é cacaca — Artaud, antropofagia e corpo em José Celso Martinez Corrêa

  • Marcos Steuernagel

Resumo

A influência de Artaud no trabalho de Zé Celso é amplificada pela antropofagia de
Oswald de Andrade. A análise que Allen Weiss faz da dimensão escatológica do som /k/ na
obra radiofônica Para Acabar com o Juízo de Deus abre um canal para ler a canibalização
de Oswald e Artaud na montagem deste texto pelo Oficina e em O Rei da Vela, trinta anos
antes. A antropofagia é uma reação no corpo à dominação intelectual colonizadora, e é em
Zé Celso que a metáfora literária ganha um corpo artaudiano. Em uma carta de Rodez,
Artaud escreve que a matéria da alma é caca, mas os corpos que são feitos em cena
apontam também para uma política do corpo, pois é na construção do corpo antropofágico
que o corpo social se torna capaz de digerir os eventos políticos da época.

Referências

ANDRADE, Oswald de. “Manifesto Antropofágico”. In Oswald de Andrade, 81-83. São Paulo: Abril Educação, 1980

ARTAUD, Antonin. The theater and its double. New York: Groove Press, 1958.

_____. Antonin Artaud, selected writings. Edited by Susan Sontag. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1976.

CORRÊA, José Celso Martinez. Primeiro ato: cadernos, depoimentos, entrevistas (1958-1974). São Paulo: Ed. 34, 1998.

PIRES, Ericson. Zé Celso e a Oficina-Uzyna de Corpos. São Paulo: Annablume, 2005.

WEISS, Allen. “K.” In Edward Scheer. Antonin Artaud: a critical reader. London; New York: Routledge, 2004.

Seção
Territórios e Fronteiras da Cena