Iluminação cênica e desobediências de gênero

Resumo

Este texto apresenta alguns achados de pesquisa de doutorado recém-concluída sobre transgeneridades e recepção teatral. Um dos aspectos nevrálgicos dos resultados da investigação é o potencial performativo da luz cênica como força lírica de expressão das visualidades de desobediências de gênero. A partir da crítica ao paradigma patológico de “transexualidade”, que reduz a amplitude das transgeneridades à modificação corporal, aventamos a corruptela “luzvesti” (luz + travesti) como operadora do aparato estético da iluminação cênica sobre desobediências de gênero. Nessa mesma direção, embasando-nos em uma perspectiva contrassexual, a ideia de diversidade sexual representada por siglas é posta em xeque em seu produtivismo cardapialista, monossexual e em escala. A partir da análise dos efeitos de luz das encenações A demência dos touros (Cia. Teatro do Perverto, 2017) e As 3 Uiaras de SP City (Laboratório de Técnica Dramática, 2018), tendo ambas abordado as transgeneridades como problemática urbana, pretende-se neste artigo indicar os aportes da iluminação cênica ao redimensionamento teórico dos estudos de gênero a partir das visualidades. Assim, o que se entende por autodesignação identitária em função do desejo ou de práticas sexuais passa a ser tensionado com processos subjetivos e sociais de performatividade e de recepção contrassexuais, percebendo a luz como um elemento de desenho espacial do gênero. A iluminação como traje de cena (vestir-se de luz) é então vista como uma possível resultante espacial de desobediência de gênero entre a dramaturgia da luz e a atuação da recepção teatral.

Biografia do Autor

Dodi Tavares Borges Leal, Universidade Federal do Sul da Bahia
Professora do Centro de Formação em Artes e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal do Sul da Bahia. Doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, com estágio doutoral no programa de Doutoramento em Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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Publicado
2019-05-09
Seção
Poéticas Espaciais, Visuais e Sonoras