A dramaturgia a partir dos rastros da história

Resumo

O presente artigo tem relação direta com a pesquisa que atualmente desenvolvo como aluno de doutorado em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia (PPGAC/UFBA). Na tese que estou desenvolvendo, atualmente intitulada A Dramaturgia como forma de (re)escrita e (re)escritura da história, eu investigo como se dá o processo de ficcionalização da história por meio de sua reescrita pelas mãos de um dramaturgo. Nesse momento da pesquisa, a noção de “rastro”, pensada por Walter Benjamin, tem sido um dos eixos norteadores de nossa reflexão acerca das diversas estratégias utilizadas por dramaturgos que se inspiram em fatos que historicamente aconteceram para compor suas intrigas e em pessoas que historicamente existiram para compor suas personagens. A noção de “rastro” pensada pelo filósofo alemão também está associada a noção de restos, fragmentos, vestígios que são deixados pelos acontecimentos e pelas pessoas que viveram em diferentes épocas, de modo que o historiador (em uma perspectiva benjaminiana) atua como uma espécie de “catador de trapos”, e a partir desses “trapos” o historiador entra em contato com a época anterior a partir de sua época e seu contexto. No processo de “reescrita” da história pela dramaturgia, o dramaturgo muitas vezes também empreende uma pesquisa histórica, onde também atua como um catador de trapos para compor sua obra. A partir de informações (muitas vezes escassas) e uma avaliação crítica e seleção dos achados, o dramaturgo dá corpo a acontecimentos históricos em sua obra preenchendo com sua imaginação o que poderia ter acontecido, o que as pessoas envolvidas poderiam ter conversado, como poderia ter sido o temperamento do personagem histórico que inspira sua obra, além de outros aspectos. Dialogando com a noção de “rastro” pensada por Walter Benjamin, nos debruçaremos e discorreremos neste artigo sobre quatro peças teatrais de fundamento histórico, são elas: Antônio José ou O Poeta e a Inquisição (Gonçalves de Magalhães), A Vida de Galileu (Bertolt Brecht), Canudos: A guerra do sem fim (Ana Maria Franco e Cleise Mendes) e Jacy (espetáculo teatral do Grupo Carmim).

Biografia do Autor

Yuri de Andrade Magalhães, Universidade Federal da Bahia
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (PPGAC/UFBA). Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).

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Publicado
2019-05-08
Seção
Dramaturgia, Tradição e Contemporaneidade