MEET (Medical Education Empowered By Theater): um encontro de acontecimentos

Resumo

Apoiados nos pensamentos de Augusto BOAL e Paulo FREIRE, desenvolvemos uma metodologia de trabalho intitulada MEET (Medical Education Empowered by Theater) que vem sendo utilizada em aulas obrigatórias para alunos do curso de medicina da Unicamp. Essas aulas são conduzidas por artistas e por médicos, numa simbiose entre a Arte da Cena e a Educação Médica. Essa metodologia foi inicialmente proposta para o desenvolvimento da comunicação e da relação médico-paciente. No entanto, percebemos que o aprendizado era muito maior, pois atua sobre a formação da identidade profissional. MEET é pautada em improvisações e jogos teatrais com o intuito de promover um espaço para reflexões genuínas que possibilite a experiência e a criação de conhecimento. Usamos esse acrônimo porque acreditamos no que ele significa: ENCONTRO. Nas aulas, incentivamos os alunos a emergirem no universo cênico e a aprenderem com o corpo todo. Após os jogos teatrais e as improvisações, eles criam suas próprias cenas de acordo com o tema da aula. São livres para se colocarem em experiência, e, consequentemente, fazem emergir questionamentos (conscientes e inconscientes) sobre a profissão médica, sobre as relações com a equipe de saúde e pacientes. É também uma oportunidade para os estudantes entrarem em contato com suas próprias emoções, dúvidas e inquietações. Encerramos as aulas com um debriefing dialogando sobre as sensações, os exercícios, as cenas improvisadas e traçamos um paralelo entre os acontecimentos do dia e a vida acadêmica e profissional. Buscamos o conhecimento e o debate coletivo. É um trabalho sensível e técnico, em que é disponibilizado um espaço para a experiência e para o debate real, com reflexões que aconteçam e dialoguem com as ideias dos alunos. Isso só é possível diante da junção entre o conhecimento artístico e o conhecimento médico e o empenho da equipe multidisciplinar. Mesmo em se tratando de estudantes de medicina, comumente identificados como uma elite, observamos que também são vítimas de opressões não necessariamente visíveis e concretas (BOAL, 1996), mas opressões dentro da cabeça de cada um como: "solidão", "incapacidade de se comunicar", "medo do vazio", entre outras.

Biografia do Autor

Leticia Rodrigues Frutuoso, Universidade Estadual de Campinas

Mestranda da Faculdade de Educação, realizando pesquisa na Faculdade de Ciências Médicas. Bacharel em Artes Cênicas pela UNICAMP.

Márcia Strazzacappa, Universidade Estadual de Campinas
Livre docente pela Unicamp. doutora em estudos teatrais e coreográficos pela Universidade de Paris, Mestre em Educação, Licenciada em Pedagogia e em Dança pela Unicamp.

Referências

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Publicado
2019-05-09
Seção
Pedagogia das Artes Cênicas