Oea: um mergulho na pedagogia africana

Resumo

“Oea” é um grito, um mergulho à pedagogia africana utilizada na École des Sables, a escola de dança nas areias do vilarejo conhecido como “Toubab Dialaw”, entre baobás e o Oceano Atlântico; É um solo, um escudo, uma dança futura, um questionamento sobre o chão que pisamos e as águas que atravessamos. O mergulho, momento em que toquei o solo do continente africano, se deu pelos pés (A Dança entra pelos pés), no primeiro estágio profissionalizante (Cruzando caminhos-2011) e a construção do solo iniciou-se na imersão com as quatro damas da dança africana: Germaine Acogny (Senegal), Irène Tassembèdo (Burkina Faso), Flora Thefaine (Togo) e Elsa Welliasthon (EUA). Escrever com o corpo minha rubrica na areia, a espiral invertida, os movimentos ondulatórios na coluna e o movimento enquanto corpo político de mulher. A construção da escrita é retroalimentada pela prática, uma via de mão dupla, com diversas intersecções. O solo apresenta os atravessamentos que rabiscam meu corpo anárquico de poesia e mulher de um país colonizado e conectado com o continente africano. Traz minhas angústias, meus enfrentamentos, histórias e sonhos. Como "Pesquisa-Confronto" também é importante apresentar as dificuldades e contradições encontradas, abordando os aspectos relacionados ao “feminino”, visto que são mulheres que escrevem, orientam e inspiram este trabalho. “Oea” são as três vogais que dão tom ao meu nome, rObErtA. E a sonoridade dessas vogais unidas me remete ao Oruncó da minha cabeça: Oyá (Epa Heji Oyá) e o feminino que me move e remove em comunhão com a busca pela transmissão das danças de matrizes africanas.Conforme ensina Kaká Werá: “O” é simbolizado pela espiral anti-horária e minha busca pelos meus ancestrais, vibra o tom do angá-mirim fogo e mora no plexo solar. O “E” tem a “onda” como símbolo gráfico e móvel é a nêe-porã, a fala sagrada do ser. O “A” vibra o tom do angá-mirim “ar” e mora no coração. Utilizo a metodologia participante, abordada por Paulo Freire e Carlos Brandão, que retrata a necessidade de criação de método de pesquisa alternativa, aprendendo a fazê-la melhor através da ação, na relação dialética entre objetividade e subjetividade.

Biografia do Autor

Roberta Ferreira Roldão Macauley, Universidade federal da Bahia
Dançarina, sabliste formada na Ecole des sables, Mestra em Artes pela Universidade Federal de Uberlândia e Doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade federal da Bahia.

Referências

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Publicado
2019-05-06
Seção
O Afro nas Artes Cênicas: performances afro diaspóricas em uma perspectiva de decolonização