Corponegociações: dança, contaminação e criação no coco de roda dos quilombos paraibanos Ipiranga e Gurugi

  • Peticia Carvalho de Moraes Escola Técnica Estadual (ETEC) de Artes

Resumo

Este resumo discorre sobre o segundo capitulo de minha dissertação de mestrado intitulada “A Festa do Coco das comunidades quilombolas paraibanas Ipiranga e Gurugi: Acontecimentos e Corponegociações”, pesquisa realizada no mestrado em Filosofia com área de concentração nos Estudos Culturais da Universidade de São Paulo. Na dissertação, busco evidenciar as transformações ocorridas na Festa do Coco, realizada todo último sábado de cada mês pelas comunidades Ipiranga e Gurugi pertencentes ao município paraibano do Conde, durante o período de minhas visitas, entre julho de 2013 e maio de 2016, a partir da análise dos acontecimentos registrados por mim em diários de campo. Em “Dança, Repetição e Criação: a novidade se estabelece pela brincadeira”, titulo do terceiro capitulo, percebo os movimentos da brincadeira do coco de roda como um ato criativo que se dá através da tensão entre repertório e contaminação. A pesquisa corporal gerada pelo coco de roda inicia-se com o estabelecimento de um padrão, um passo básico, que pode ou não fazer parte do repertório cotidiano dos corpos participantes, porém, ela somente se efetiva quando estes se utilizam do ritmo e do foco nos pés, provocados pela repetição, como regras que auxiliarão no surgimento de novos movimentos criados a partir da negociação entre os corpos que brincam dentro da roda. O movimento é produzido e não reproduzido, tornando as regras da brincadeira mais importantes do que a execução específica de certos movimentos. A forma não é antecipada, e há respeito com o corpo do outro, não exigindo deste mais do que ele pode oferecer; a corponegociação, ao mesmo tempo que desafia os corpos a criarem, respeita suas limitações. As duas camadas estabelecidas na brincadeira do coco de roda: dançar compondo a roda de coco, fazendo parte do coletivo, e adentrar a roda para dançar com um parceiro, me levam a refletir sobre as características da dinâmica do movimento e da contaminação estabelecida na primeira camada e as variações da brincadeira surgidas através do processo de apropriação desses movimentos na segunda camada.

Biografia do Autor

Peticia Carvalho de Moraes, Escola Técnica Estadual (ETEC) de Artes
Docente dos cursos Técnico em Dança e Teatro - Escola Técnica Estadual (ETEC) de Artes de São Paulo. Bailarina e diretora da Cia Mover.

Referências

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Publicado
2019-05-08
Seção
Grupo de Pesquisadores em Dança