Teatro com a rua – nuances estéticas e políticas do teatro de rua na contemporaneidade
Resumo
Interessado nos fluxos entre tradição e contemporaneidade bem como sobre os atravessamentos de um teatro disposto a habitar e compor silhuetas urbanas, busco com o presente artigo refletir sobre algumas nuances poéticas e políticas da composição de dramaturgia e encenação do teatro de rua brasileiro na atualidade. O breve panorama a ser apresentado fala de um movimento histórico no teatro de rua que, a partir do conflito “teatro de rua versus teatro na rua”, tem se atido cada vez mais a um estado de presença no espaço público, ocupando-o, invadindo-o e compondo formas de vida e (de) cidade. A partir de uma compreensão de que a estrutura da arte e a do mundo são a mesma, que o teatro é uma das instâncias que compõem a vida e não um substrato com leis diferenciadas e influenciado por Bia Medeiros e o Grupo Corpos Informático, busco pensar a ação do Teatro de Rua como um ato de composição de cidade e não apenas como metáfora ou alegoria sobre a mesma. O teatro de rua, enquanto fenômeno urbano precisaria ser compreendido em sua potência de vida, de acontecimento que fere a ordem vigente e constitui, mesmo que de modo efêmero, outras cidades. Defendo que para além do plano temático, o próprio fato de realizar algo no espaço público já significa compor dentro das dinâmicas culturais, simbólicas, arquitetônicas e materiais do urbano.
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