Vagabundos, vadios e malandros: estratégias de inserção social e artística em uma longa caminhada marginal

  • Daniel Marques da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Andrea Bieri Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro
  • Mario Fernando Bolognesi Universidade Federal da Bahia
  • Alexandre Nunes Universidade Federal de Goiás
  • André Carrico Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

A mesa pretende discutir as figuras de uma tipologia malandra, percebendo as estratégias de aproximação e tentativas de pertencimento social a que atores e atrizes tiveram que recorrer através da História, a composição de tipos cômicos como espelhos deste ideário preconceituoso, intuindo nestas estratégias modos de ação insubmissos e de outras ordens de pertencimento. Artistas de talentos múltiplos, os jograis da Idade Média vagavam entre festas e feiras. Autores, portadores e intérpretes de canções e lendas, exerciam importante papel cultural ao transitar entre os espaços aristocráticos e populares; ao mesclar o registro sagrado com o profano; ao propagar dentro e fora das fronteiras outras ideias e formas de expressão. A profissionalização destes artistas foi resultado de um longo processo oriundo da vagabundagem. Desde que esmoreceu o comércio ambulante de medicamentos, os charlatães passaram a comercializar suas cenas, predominantemente cômicas, com máscaras e tipos fixos. Assim, o tipo cômico do malandro passa a integrar repertórios de atuação, fazendo diálogo com as estratégias de penetração da classe artística na sociedade dita séria e estabelecida em oposição a um mundo sem juízo e errante. Como exemplo deste tipo do vagabundo podemos considerar Didi, personagem criado por Renato Aragão, que espelha o excluído e vadio. A leitura que nos propomos a fazer é de metáforas arquetípicas comumente desapercebidas. Identificar elementos capazes de questionar nossas certezas e nossos preconceitos latentes quanto a determinadas tradições rejeitadas e marginalizadas. Uma caminhada ladeada pelas poéticas amorais de personificações sem dignidade, como as simbólicas herméticas de pelintras e peraltas, capazes de conceder cidadania às zonas obscuras de nossa potência criativa nas artes da cena. Porque de pelintras e pilantras, de errantes e excluídos também é feita esta classe a que pertencemos.

Biografia do Autor

Daniel Marques da Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professor Associado II PPGAC-UFRJ e PPGEAC-UNIRIO

Andrea Bieri, Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro
Professora Adjunta IV da Faculdade de Filosofia e do PPGEAC UNIRIO.
Mario Fernando Bolognesi, Universidade Federal da Bahia
Professor visitante do PPGAC-UFBA.
Alexandre Nunes, Universidade Federal de Goiás
Professor Adjunto IV.
André Carrico, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Professor Adjunto PPGArC-UFRN

Referências

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Publicado
2019-05-08
Seção
Mesas Temáticas