O mastro do santo e a santidade do mastro

  • Eduardo Wagner Nunes Chagas Universidade Federal do Pará

Resumo

Este trabalho se configura como uma das dobras de minha pesquisa para o doutoramento em Artes, a qual observa duas festividades dedicadas a São Benedito realizadas no bairro do Jurunas, em Belém do Pará, como práticas espetaculares em que se tem a carnavalização – conceito de Mikhail Bakhtin – como ferramenta de manutenção da vida e instrumento que burla as tensões sociais, associada aos sentidos de afetos e emoções. O trabalho foca o “mastro do santo” como elemento simbólico que carrega em si sentidos ancestrais arraigados aos mais primevos entendimentos de festa e práticas espetaculares relacionados ao divino e sua materialização no alimento e na fertilidade do corpo, tendo atravessado a história das sociedades humanas por meio do imaginário que o ressignificou, sem, no entanto, tirar-lhe o sentido simbólico primordial. O mastro, em festividades do catolicismo popular, traz consigo o significado da fartura e do agradecimento, além de sua faceta sexuada e carnal amalgamada à sua forma fálica e também presente no ato ritual de celebração do erigir. Integra o vocabulário simbólico das festividades de São Benedito como um dos elementos mais importantes em todo seu processo ritual – a posse, preparação, exibição em cortejo, levantamento e derrubada, compondo um quadro espetacularizado que o apresenta como objeto sacralizado pela concepção popular. Utilizo para essa análise, principalmente, a visão etnocenológica, a partir dos conceitos de espetáculo e espetacularidade, associada às percepções da antropologia das emoções, de David Le Breton, e do entendimento de comunidade emocional, de Michel Maffesoli, além de abordagens da antropologia interpretativa de Clifford Geertz.

Biografia do Autor

Eduardo Wagner Nunes Chagas, Universidade Federal do Pará
Carnavalesco, cenógrafo e figurinista. Doutorando - Programa de Pós-Graduação em Artes – PPGARTES, Universidade Federal do Pará.

Referências

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987.

GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Trad. Vera Joscelyne. 14. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2014. (Coleção Antropologia).

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 1. ed. [Reimpr.]. Rio de Janeiro: LCT Editores, 2013.

HOGGART, Richard. As utilizações da cultura: aspectos da vida da classe trabalhadora, com especiais referências a publicações e divertimentos. Trad. Maria do Carmo Cary. Lisboa: Editorial Presença, 1973.

LE BRETON, David. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Petrópolis: Vozes, 2009.

MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum: introdução à sociologia compreensiva. Porto Alegre: Sulina, 2007.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.

MAFFESOLI, Michel. A sombra de Dionísio: contribuição a uma sociologia da orgia. Trad. Aluizio Ramos Trinta. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. (Coleção Tendências; v. 7).

MONTEIRO, Benedicto. História do Pará. 2. ed. Belém: Editora Amazônia, 2013.

TURNER, Victor W. O processo ritual: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.

SANTA BRÍGIDA, Miguel de. O maior espetáculo da terra: o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro como cena contemporânea na Sapucaí. 2006. 234 f. Tese (Doutorado em Artes Cênicas). Programa de Pós-Graduação, Universidade Federal da Bahia, [2006].

VAN GENNEP, Arnold. Os ritos de passagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1978.

Publicado
2019-05-08
Seção
Etnocenologia