Imediações - práticas de imprevistos e a dança situada
Resumo
Iniciamos nossa ponderação a partir da noção desenvolvida por Isabelle Stengers de uma Ecologia de Práticas, para discorrer sobre uma prática criativa e procedimentos pedagógicos que se alinham ao que Stengers chamou de cosmopolítica. Na esteira do construtivismo especulativo de Whitehead, a filósofa descreve formas de perceber nossa relação ético-ecológica com o mundo do seguinte modo: “Cosmopolítica define a paz como uma produção ecológica de união real, onde“ ecológico ”significa que o objetivo não é para uma unidade além das diferenças, o que reduziria essas diferenças através de uma referência de boa vontade a princípios abstratos de união, mas em direção à criação de enlaces, assimétricos e sempre parciais. (P. 248-49, Risk of Peace). Neste texto apresento estratégias e alguns pontos chave da nossa pesquisa em improvisação em dança, evitando a recusa daquilo que se propõe transcender ou escapar “das reais limitações de nosso real em direção a alguma universalidade sonhada” (Bordeleau, 2016). Compartilhamos a noção de uma dança situada, desenvolvida no Laboratório de Ensaios e Imprevistos, sediado no Centro de Artes da UDESC para especular sobre o conceito de imediação.Ao aproximar as noções de situação em dança, cosmopolítica e imediação, são tensionadas algumas categorias analíticas recorrentes em dança (sejam estas oriundas das perspectivas semióticas ou da fenomenologia). Para tanto aproximamo-nos do vocabulário desenvolvido na filosofia processual por teóricos como Whitehead, Manning, Massumi, Harwood. A partir deste entrelaçamento surgem algumas ponderações especulativas a serem colocadas em debate teórico-crítico no campo da dança cênica e suas pedagogias contemporâneas, tais como: Como definir de modo preciso a noção de atividade, de evento? Quando a noção de atividade entrelaça-se com potencialidade e imediatividade é tomado como um conceito que realiza potenciais passados, a ação passa a ser apenas aquilo o que produz novidade? Seria necessário revisitar o conceito de criatividade, à luz da filosofia processual, para alcançar a complexidade de uma pedagogia para a improvisação do movimento? Como desenvolver vocabulários para ensinar, estudar e descrever sobre uma dimensão qualitativa do evento, que diz respeito à como ele ocorre e é con-sentido (o que chamamos de imediação e seus desdobramentos)? Se cada evento é uma economia relacionalqualitativa de processos repleta de singularidades e multiplicidades (James) como construir uma pedagogia de imprevistos? Quais são as coincidências que já estão em ocorrência na situação, das quais o fazer em dança poderia se apropriar?Referências
BORDELEAU, Erik. Imediação, Bergson e o problema da Personalidade. Revista Interfaces Brasil-Canada, v. 18, n. 2 (2018).
MANNING, Erin. Relationscapes: Movement, art, philosophy. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2009.
MANNING, Erin. Always More than One- individuation’s dance. Duke University Press, 2013.
MANNING, Erin. The Minor Gesture. Bogart: Duke University Press, 2016.
MANNING, Erin. O que Mais? Interlúdio de Sempre Mais do que Um A Dança da Individuação. Revista Dança. v. 4, n. 2 (2015). disponível em https://portalseer.ufba.br/index.php/revistadanca/article/view/15655
MASSUMI, Brian. Parables for the virtual: Movement, affect, sensation. Durham; London: Duke University Press, 2002.
MASSUMI, Brian. Semblance and the event. Activist philosophy and the occurrent arts. Cambridge: The MIT Press, 2011.
STENGERS, I. (2018). A proposição cosmopolítica. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, (69), 442-464. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i69p442-464
WHITEHEAD, Alfred North. Process and reality, an Essay in cosmology. New York: Harper,1978.