Poetas da cena que enfrentaram Brasília: o espaço inclemente

Resumo

O presente artigo se dedica a pensar as relações entre teatro e espaço urbano a partir do trabalho dos encenadores Ary Pára-Raios (1939-2003) e Mangueira Diniz (1954-2009), artistas que construíram importante atuação na produção cênica da capital brasileira, especialmente entre os anos de 1979 e 1992. Em dezembro de 1979, Ary realiza nas ruas de Brasília uma ação denominada Guerrilha do Bom Humor, contexto em que irá surgir seu grupo, o Esquadrão da Vida, que se tornaria uma referência do teatro de rua na jovem capital. Já Mangueira Diniz, entre outras criações, foi o responsável, em 1992, pela encenação de Dias Felizes nas águas do Lago Paranoá. A reflexão proposta é desenvolvida por meio da análise de traços marcantes no trabalho desses criadores em diálogo com aspectos característicos da configuração urbanística de Brasília, a capital moderna. Para tecer as reflexões entre encenação e cidade, recorre a depoimentos dos próprios artistas e aos estudos dos pesquisadores CARREIRA (2000), CORADESQUI (2012), HOLSTON (1993), GHEL (2013) e CORTÉS (2008).   Ao refletir sobre os procedimentos desses encenadores na composição entre cena e cidade, mobilizando diferentes potências do espaço urbano na construção de seus discursos poéticos, evidencia como essas encenações se inscrevem como referências notórias quanto aos distintos modos do teatro praticar uma cidade tão distinta, o espaço inclemente.

Biografia do Autor

Francis Wilker de Carvalho, Universidade de São Paulo.

Professor e encenador; Pesquisa as relações entre teatro e espaço urbano. Trabalha no Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará como professor do curso de Teatro. Atualmente desenvolve sua pesquisa de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Referências

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Publicado
2019-05-09
Seção
Poéticas Espaciais, Visuais e Sonoras