Nheengaíba-vodum: griô poético na confluência do negro quilombola e indígena habitantes das margens do Rio Marajó-Açú ao Rio Arari em Ponta de Pedras na Ilha do Marajó – Pará

  • Roseane Moraes Tavares Universidade Federal do Pará

Resumo

Esta é a comunicação dos caminhos e pistas de uma tese-criação em busca de uma encruzilhada poética na confluência entre arte, política e espiritualidade. O corpo, tratado aqui como o espaço político por excelência, será o suporte, fonte e meio dos modos de existência e subjetivação desta pesquisa ao grafar, em campo e sala de trabalho, o emaranhado intuitivo, místico, simbólico, discursivo e afetivo extraídos do testemunho de lideranças femininas indígenas e quilombolas - vivas e mortas - habitantes das comunidades localizadas às margens do Rio Marajó Açú ao Rio Arari, no Município de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, e da escuta desses mesmos rios com suas matas e animais. A trama para ser chegar até essas mulheres partirá da criação de mapas poéticos que conectam minha genealogia consanguínea à ancestral, alicerçados por uma cartografia que desenha o processo de ocupação desses dois povos nativos na formação originária deste respectivo território do Marajó. No percurso, a corpografia com indutores poéticos fabulados a partir de uma antropologia da política dessas comunidades, do suporte teórico da etnobotânica e de escavações arqueológicas de suas terras, de onde brotam cemitérios com artefatos indígenas e arquiteturas em ruínas de engenho de açúcar, com fossos de torturas e quinquilharias de ferro que marcam a escravidão e servidão do período colonial deste lugar. No horizonte, a instauração de uma criação artística maquinada como um griô poético-político-espiritual.

Biografia do Autor

Roseane Moraes Tavares, Universidade Federal do Pará
Professora efetiva de Filosofia. Doutoranda pelo Programa de pós-graduação em Artes da UFPA.

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Publicado
2019-05-15
Seção
Territórios e Fronteiras da Cena