Morredeiro: a espetacularização da morte numa criação cênica de horror

Resumo

Este artigo se propõe a refletir sobre a espetacularização da morte na criação do espetáculo Morredeiro, uma apropriação poético-cênica daquela que se considerou a principal premissa do gênero do horror: o medo de que os corpos sejam feridos, deformados ou mortos. Partindo-se de considerações a respeito do medo ancestral da morte – e de como, paradoxalmente, ela foi espetacularizada em execuções públicas – analisa-se o medo e o fascínio inerentes ao ser humano como cerne do apelo que a cena de horror faz aos espectadores. Pensa-se no caráter espetacular intrínseco à cena de horror – ainda que se trate de um gênero artístico e narrativo – e na íntima relação entre o olhar do espectador e a mostração cênica de um corpo em risco de morte. Sob essa abordagem, ao colocar no foco os corpos de personagens que agonizam, o espetáculo Morredeiro procuraria estabelecer um ponto de conexão radical com a plateia, sobretudo, pelo poder desconcertante da presença real e ao vivo do corpo do ator performando como um personagem em situação de risco de morte. A convenção estética da degradação dos personagens é pensada ainda como uma proposta teatral que pretende potencializar o estreito vínculo entre fascínio e perturbação.

Biografia do Autor

Paulo Roberto Farias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mestrando em Artes Cênicas pelo PPGAC/UFRGS, onde realiza a pesquisa "Morredeiro: a corporalidade perturadora numa criação cênica de horror", sob orientação da Dra. Profa. Mirna Spritzer.

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Publicado
2019-05-08
Seção
Cartografia de Pesquisas em Processo