Fé no corpo: vestígios de recordações num corpo passante

Resumo

O objetivo desta comunicação é apresentar recortes da experiência cênica de elaboração e apresentação do solo Fé no Corpo. O solo é tecido por memórias de rituais que vivenciei ao longo de uma vida e por experiências cênicas onde o corpo, só ganha corpo, ao se colocar em processo de descobertas, afetações e transformações. Nos entremeios de movimentos, gestos, expressões e palavras, meu corpo escrito pela oralidade ritualística e pela prática de dançar, movimenta o tempo da recordação de um outro lugar além do estar ali presente, naquele momento, mas alterado por lembranças que são evocadas por um passado sempre em movimento. A evocação do corpo em fé é uma recordação no corpo, um ato que é ao mesmo tempo tradicional e singular (CONNERTON, 1999). Como a exposição de minhas memórias podem afetar o olhar é a memória de quem assiste a performance? A ideia de Fé no Corpo vem da percepção da riqueza expressiva das práticas corporais da cultura afro-brasileira, principalmente, nos espaços públicos, onde circulam histórias, afetos e corpos com incontáveis formas de deslocar-se, gesticular e interagir. As tradições afro-brasileiras revelam e afirmam uma cultura do corpo, um corpo que funcionou para os negros como lócus de alteridade. As práticas por eles organizadas encontraram na linguagem dos gestos, palavras e sons seu principal veículo de expressão (DAMASCENO, 2015). Em Fé no Corpo a corporeidade é apresentada como um arquivo que condensa um saber pelos movimentos verbais e não-verbais, com a finalidade de transmitir e conservar memórias pessoais e de um grupo (TAVARES, 2013).

Biografia do Autor

Tatiana Maria Damasceno, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Coreógrafa, intérprete e pesquisadora. Doutora em Artes Cênicas; Professora nos cursos de dança da UFRJ; Coordenadora do bacharelado em dança da UFRJ.

Referências

BENISTE, José. Òrun Àiyé: o encontro de dois mundos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

BERNARD, Michel. O corpo. Rio de Janeiro: Apicuri, 2016.

BIDIMA, Jean-Godefroy. De la traversée: raconter des expériences, partager le sens. Rue Descartes, 2002/2, n.36, p. 7-17.

BONDÍA, Larrosa Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 19, 2002.

CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. 2. ed. Oeiras: Celta, 1999.

DAMASCENO, Tatiana Maria. Nas águas de Iemanjá: um estudo das práticas performativas no candomblé e na festa à beira-mar. Tese de Doutorado em Artes Cênicas. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015.

DAMASCENO, Tatiana Maria; AZEVEDO, Renata Borges de. InCORPO e Fé no Corpo: recordações em movimentos e falas poéticas. V Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança. Manaus: ANDA, 2018. p. 288-299. www.portalanda.

NUNES, Meyer Sandra. O Corpo do Ator em Ação. In: GREINER, C., AMORIM C. (Org.). leituras do Corpo. São Paulo: Annablume, 2003.

LAPLATINE, François; TRINDADE, Liana. O que é imaginário. São Paulo: Brasiliense, 1997.

LODY, Raul. Jóias do Axé: fios de contas e outros adornos do corpo: a joalheria afro-brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

LOUPPE, Laurence. Poética da Dança Contemporânea. Lisboa: Orfeu Negro, 2012.

TAVARES, Júlio César de Souza. Dança da Guerra: arquivo e arma: elementos para uma teoria da capoeiragem e da comunicação corporal afro-brasileira. Belo Horizonte: Nandyala, 2013.

Zeca Ligiéro. Corpo a corpo: estudos das performances brasileiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2011.

Publicado
2019-05-08
Seção
Estudos da Performance