Em busca de uma poética da Loucura: significados e sentidos presentes na interface arte-saúde
Resumo
Trata-se de uma análise teórico-prática de processos criativos em artes cênicas realizados entre 2010 e 2017, com os grupos "Os Insênicos" e "Imagina Só", ambos formados por sujeitos usuários do sistema de saúde mental do Estado da Bahia, Brasil, no formato de oficinas com encontros semanais. As experiências compartilhadas se apresentam como propostas artísticas. Os principais dispositivos criativos utilizados nesses trabalhos foram corpo, memória, narrativa, jogo e improvisação. A partir dessas experiências, refletimos sobre o lugar e o papel das encenadoras no processo colaborativo, e principalmente na condução do processo na interface arte-saúde. Nos percursos criativos desses grupos artísticos, as funções das encenadoras se ampliam ora como dramaturgas, ora como mediadoras de conflito e, ainda, como produtoras culturais. Com isso, é possível problematizar os limites do chamado processo colaborativo, uma vez que algumas funções ainda estão concentradas em uma pessoa que acrescenta a seu papel de encenadora múltiplas responsabilidades. Ainda assim, há que se reconhecer o esforço dos grupos em experimentar processos criativos que se abrem em fluxos coletivos e colaborativos. Em momentos específicos, o grupo depende dessa pessoa para organizar e produzir condições materiais para a efetivação do trabalho artístico, bem como impulsionar o grupo a encontrar novos estímulos para a criação. Por meio da análise dos processos, são indicadas pistas para a reflexão acadêmica, em uma investigação de mestrado e outra de doutorado em curso no PPGAC/UFBA que pretendem discutir lugar e papel do/a encenador/a no processo artístico colaborativo, significados e sentidos nas poéticas presentes nessa interface arte-saúde mental, ampliando e reorientando o debate no âmbito das artes. A aposta é fortalecer saberes e práticas referenciados nas Artes Cênicas, em permanente interlocução com outros campos de conhecimentos.
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