A descolonização do pensamento dançante

  • Marcia Almeida

Resumo

Neste texto proponho mais uma reflexão a respeito de como a dança tem contribuído para a manutenção do pensamento dançante hegemónico, e menos uma descrição temporal de processos criativos. A partir de uma visão sistêmica e global, questiono como a inesgotável diversidade que temos, e portanto a pluralidade dos sotaques corporais, não se impõem nos gestos dançados apresentados na maioria das propostas coreográficas. Percebo que os gestos dançados se expressam, de certa forma, mais afetados plasticamente e filosoficamente pelo modelo eurocêntrico e menos pela herança soma-estética, legado deixado pelos africanos aos brasileiros. Portanto, as sensações das pessoas e suas expressões não são universais. Cada gesto é apreendido e realizado por mediação e modelagem da sociedade à qual a pessoa pertence. No Brasil somos mais negros e menos brancos. Os gestos são transmitidos desde a tenra infância, pela educação e por imitação a partir do convívio. Mesmo os gestos mais simples são adquiridos. Assim, os gestos aparentemente inatos são técnicas ou atos eficazes de uma tradição. Para conduzir essa reflexão, analiso a predominância dos espetáculos estrangeiros apresentados nos programas de eventos de dança que têm abrangência nacional. Me respaldo também em estudos tais como a teoria de habitus, Bourdieu; Anthropologie du corps et modernité, Le Breton; L’image du corps, Shilder; Les techniques du corps, Mauss; La conscience du corps, Shusterman; Le monde sensible et le monde de l’expression, Merleau-Ponty; Epistemologias do Sul, Santos e Meneses e em diálogos com Rui Moreira, artista da dança. A ideia é discutir como as propostas apresentadas e difundidas pelos festivais e mostras de dança não corroboram com a relevância das Epistemologias do Sul.

Referências

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Seção
Epistemologias do Sul na pesquisa em artes cênicas e nas práticas da cena contemporânea expandida