Um sertão no Sul do Sul de Carmelo Bene

  • Silvia Balestreri

Resumo

Este trabalho pretende realizar uma fricção entre o que encontrei em viagem à terra de Carmelo Bene, a Apúlia, na Itália, em uma primeira incursão exploratória realizada em outubro e novembro de 2014, e, como denominei os achados de então, o “meu sertão”, através de elementos de uma leitura do livro Grande Serão: Veredas. Desde maio de 2014, em viagens a Paris e a mais de uma cidade da Itália, em encontros com pessoas fortemente ligadas a Bene, expus-me a ondas que guardavam alguma intensidade de experiências vividas por essas pessoas com o artista, como espectadores, amigos ou sobreviventes dos choques provocados, nas mais diversas ocasiões, por sua figura pública. No momento de preparação da viagem à região, o professor Piergiorgio Giacchè, amigo e estudioso de Bene, aconselhou-me a anotar o que havia de meu naquele encontro, minhas sensações e percepções, e que eu deixasse Carmelo Bene se aproximar de mim como fantasma, para que ele me assombrasse, pois os fantasmas não se fixam. Nessa região, em diferentes cidades, Bene viveu a infância e adolescência, veraneou na idade adulta, planejou instalar uma fundação para abrigar seus arquivos pessoais, escreveu, esboçou espetáculos, filmou. Contrariando minhas próprias expectativas de encontrar na região primordialmente traços e resquícios de meus antepassados italianos, tive a impressão de que ali havia um sertão. Essa impressão foi forte e é ela que será convocada e confrontada no momento de redigir e apresentar este trabalho. Para tanto, revisitarei uma leitura livre, de influência deleuzeana, que fiz da obra-prima de Guimarães Rosa, em especial, as passagens que destaquei nela com referências ao sertão. Veremos o que tais assombrações têm a dizer.

Referências

BENE, Carmelo; DOTTO, Giancarlo. Vita di Carmelo Bene. Milano: Bompiani, 1998/2008.

BENE, Carmelo. Sono aparso alla Madonna. Milano: Bompiani, 2005/2014.

DELEUZE, Gilles (1981). Lógica da sensação. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

DELEUZE, Gilles. Um manifesto de menos. .In: ___ Sobre o teatro. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 25-64

GACCHÈ, Piergiorgio. Eugenio Barba e Carmelo Bene: Vite Parallele e Viaggi Perpendicolari.Teatro e storia. n. 33, 2012. 321-332. Disponível em: http://www.teatroestoria.it/pdf/33/33-17-GIACCHE.pdf Acesso 03/11/2016.

HERRY, Ginette. Biographie artistique. In: BENE, Carmelo et al. Carmelo Bene. Paris: Dramaturgie; José Guinot, 1977.

KASTRUP, Virgínia. A atenção na experiência estética: cognição, arte e produção de subjetividade. Revista Trama Interdisciplinar. v. 3, n. 1 (2012) Disponível em http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/5000 Acesso: 12/07/2016.

KASTRUP, Virgínia. A cognição contemporânea e a aprendizagem inventiva. In: ____; Tedesco, Silvia; Passos, Eduardo. Políticas da cognição. Porto Alegre: Sulina, 2008. p. 93-112.

KASTRUP, Virgínia. A invenção de si e do mundo. Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

KASTRUP, Virgínia. Aprendizagem, arte e invenção. In: LINS, Daniel. (Org.). Nietzsche e Deleuze: pensamento nômade. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001, p. 207-23.

ROSA, João Guimarães (1956). Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

SASSO, Robert; VILANI, Arnaud (Org.) Le Vocabulaire de Gilles Deleuze. Les Cahiers de Noiesis. 3, Printemps 2003.

ZOURABICHVILI, François. O vocabulário de Deleuze. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

Seção
Cartografia de Pesquisas em Processo