Pós-cena: a temporalidade na recepção da performance urbana artivista Cegos, do Desvio Coletivo

  • Christiane de Fátima Martins Universidade de São Paulo

Resumo

Tal estudo busca analisar a possível alteração da temporalidade que uma obra, de caráter artivista, como a intervenção urbana Cegos do Desvio Coletivo, é capaz de provocar ao transeunte que é atravessado pela obra no seu trajeto cotidiano, além de questionar se a mesma funciona como um dispositivo de visibilidade, possibilitando ao espectador a reflexão sobre o espaço temporal em que se encontra, ressaltando que a obra Cegos ocupa a cidade, entendendo-a como um espaço aberto para a criação artística, partindo de uma premissa de duplo aspecto: o primeiro seria perceber a cidade por meio dos diversos monumentos que a modelam e definem sua imagem; o outro aspecto está no emprego do tempo feito pelos cidadãos, e ainda pelos mais diversos tipos de olhares que se voltam para a cidade, seu espaço físico e simbólico, considerando que a prática social se realiza espacialmente. Assim, há uma relação direta entre a produção do espaço e tempo e a constituição de uma sociedade. E é na ocupação desse espaço, em um tempo descompassado do tempo da cidade, que Cegos se faz perceber, ativando a necessidade da fruição do momento presente, de experimentá-lo de forma profunda, tornando esse momento uma memória vívida, esteja ele conectado à obra ou a qualquer crítica social que, emancipado, o espectador possa extrair dela, no sentido empregado por Jacques Rancière. Entramos, assim, um território onde se reconhece a percepção do espectador como um elemento variante, o que permite levá-lo a diversos “espaços” (reais e ficcionais), possibilitando que seu olhar oscile o tempo todo, criando um movimento de confronto entre performer e espectador, um movimento de imprevisibilidade, que pode levar aquele que assiste à obra a se questionar sobre o que está vendo.

Biografia do Autor

Christiane de Fátima Martins, Universidade de São Paulo
Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009), licenciada em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2006) e mestre em Artes pela Universidade de São Paulo (2012), no qual pesquisou o hibridismo das linguagens artísticas, principalmente entre as Artes Cênicas e Visuais. Atualmente cursa doutorado em Artes da Universidade de São Paulo, pesquisando o comportamento social frente a intervenções urbanas, além de integrar o grupo de pesquisa O Círculo Grupo de Estudos Híbridos das Artes da Cena, e do Laboratório de Práticas Performativas, ambos do Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP. Também cursa o MBA em Gestão Escolar na USP/Esalq.

Referências

AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Papirus, Campinas/SP, 1994.

BERGSON, Henri. Memória e Vida. São Paulo, Martins Fontes, 2006

CANTON, Katia. Tempo e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 2009. [Coleção Temas da Arte Contemporânea].

HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo – um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2016.

RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado, Revista Urdimento, Programa de Pós-Graduação em Teatro, Universidade do Estado de Santa Catarina, v. 1, n. 15, p.107–122, Florianópolis, UDESC/CEART, outubro de 2010.

TURNER, Victor. From ritual to theatre: the human seriousness of play. New York: PAJ Publications, 1982.

Publicado
2021-12-16
Seção
Poéticas Espaciais, Visuais e Sonoras