Transcriação de tradições: africanidades, amizades e construção de identidade afrodescendente em cenas de poéticas diaspóricas

  • Luciano Mendes de Jesus Universidade de São Paulo

Resumo

Nesta pesquisa primeiramente abordamos as relações entre o percurso do continuum Grotowski-Workcenter em contraste com os aspectos epistêmicos-performativos africano-diaspóricos que fundamentam esta obra artístico-investigativa, mas que são pouco problematizados nos discursos elaborados por esse binômio e em pesquisas sobre o mesmo, destacando a presença, ausência, opacificações e apagamentos de sujeitos, formas e conceitos. Posteriormente localizamos as dinâmicas étnico-raciais que permeiam as relações intersubjetivas nesse continuum, fundamentadas nas colaborações interculturais e criações de poéticas transculturais, paradigmatizadas pela elaboração de políticas de amizade contrastantes com as políticas de inimizade assinaladas por Achille Mbembe. Como fator integrador das duas instâncias, autoetnograficamente analisamos nosso processo de construção de identidade afrodescendente no contexto criativo pluriétnico do Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards, gerando uma proposta de síntese da análise, crítica e processamento de experiência da tríade elementos de africanidades/relações étnico-raciais/identidade afrodescendente através do projeto “Plataforma Garimpar em Minas Negras Cantos de Diamante”, que concebe teatralidades a partir de tradições bantu-brasileiras.

Referências

BARUCHA, Rustom. Viajando através do interculturalismo: do pós-colonial ao presente global. Trad.: Maria Lyra. In: Uberlândia: Ouvirouver, v. 13, n. 1, p. 12-23, jan – jun, 2017.

CUNHA JR., Henrique. Africanidades, Afrodescendência e Educação. Educação em Debate (CESA/UFC), Fortaleza, ano 23, v. 2, n. 42, p. 5-15, 2001.

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura e Afrodescendência. Literafro, UFMG, Belo Horizonte, 2020.

ÉVORA, Iolanda. Continuidades e transformações no estudo das migrações: elementos para a análise crítica das mobilidades africanas contemporâneas. In: FEIJÓ, João (org.). Movimentos migratórios e relações rural-urbanas: estudos de caso em Moçambique. Maputo: Alcance Editores. 2016.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FU-KIAU, Kimbwandende Kia Bunseki. African cosmology of the bantu-kongo: principles of life and living. Nova Iorque: Athelia Henrietta Press, 2001.

GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Lisboa: Sextante Editora, 2011.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82.

GROTOWSKI, Jerzy. Da companhia teatral à arte como veículo. In: RICHARDS, Thomas. Trabalhar com Grotowski sobre as ações físicas. São Paulo: Perspectiva, 2012.

______Hacia un teatro pobre. Trad.: Margo Glantz. Cidade do México: Siglo XXI Editores, 1970.

______Tu eres hijo de alguien. In: Máscara, ano 3, n. 11-12. Ixtapalapa: Ed. Escenologia, A. C., 1993.

HAIDER, Asad. Armadilha da identidade: raça e classe nos dias de hoje. Trad.: Leo Vinicius Liberato. São Paulo: Veneta, 2019.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação – Episódios de racismo cotidiano. Trad.: Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Trad.: José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1980.

MARTINS, Maria Leda. Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras, língua e literatura: limites e fronteiras, n. 26, Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Santa Maria/RS. p.63-81, 2003.

MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Trad.: Marta Lança. Lisboa: Antígona, 2017.

______Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Trad.: Fábio Ribeiro. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.

MONGA, Célestin. Niilismo e negritude: as artes de viver na África. Trad.: Estela dos Santos Abreu. São Paulo: Martins Martins Fontes, 2010.

OKAMOTO, E.; PETROCANRI, V. C.; AVELINO, B. D. Fricções culturais e criação cênica nas obras de Peter Brook, Ariane Mnouchkine, Rustom Bharucha e Jerzy Grotowski. Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 7, n. 1, p. 81–87, 2017.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. Visualizando o corpo: teorias ocidentais e sujeitos africanos. In: COETZEE, Peter; ROUX, Abraham. The African Philosophy Reader. Trad.: Wanderson Flor do Nascimento. New York: Routledge, 2002, p. 391-415. Disponível em: https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/oy%C3%A8r%C3%B3nk%E1%BA%B9%CC%81_oy%C4%9Bw%C3%B9m%C3%AD_-_visualizando_o_corpo.pdf. Acesso em: 02, set., 2020.

QUIJANO, Aníbal. "¡Qué tal raza!”. In: América Latina en Movimiento, nº 320. Quito: Alai, 2011.

SANTOS, Tiganá Santana Neves. A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução).

SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro: as vicissitudes do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

Publicado
2021-12-16
Seção
O Afro nas Artes Cênicas: performances afro diaspóricas em uma perspectiva de decolonização