Palhaças subversivas - comicidades feministas

  • Fernanda Dias de Freitas Pimenta Universidade de Brasília

Resumo

O texto evidencia o andamento de uma pesquisa que investiga os modos pelos quais a comicidade feminina responde e contesta imposições de gênero demandadas às mulheres e, como, assim, consolida-se como instrumento para criações dramatúrgicas cômicas e potencialmente feministas. Almeja refletir sobre a palhaçaria criada e vivenciada por mulheres e suas relações com pensamentos/atitudes/ideias dos feminismos. Investigações sobre a mulher na palhaçaria, a comicidade e os diversos feminismos são pontos de partida para esta análise, que se desdobra em entrevistas com palhaças contemporâneas e investigação e análise de montagens cômicas de cenas e espetáculos brasileiros. Conta também com a criação e análise procedimental de um espetáculo solo vivenciado e montado por mim, palhaça-pesquisadora. A despeito de o surgimento da mulher na palhaçaria ter acontecido há algum tempo, ela só conseguiu exercer esta função porque houveram transformações sociais em sua condição de vida, o que impulsionou sua atuação nas artes. Por meio da palhaçaria e da comicidade suponho que podemos provocar reflexões sobre nossa condição de mulher ao trazer para o cerne da cena dramaturgias que evidenciam opressões de gênero. Numa cultura sexista e hegemonicamente patriarcal, engendrada, como pode a construção social da mulher servir de base ao processo dramatúrgico e criativo das palhaças? Enquanto palhaças, a comicidade nos permite eleger temas e signos que buscam evidenciar, quebrar, romper e destruir opressões estruturais em relação à condição de vida das mulheres e seus limitantes comportamentais. Os principais diálogos serão com a estudiosa de gênero Valeska Zanello, as feministas Djamila Ribeiro e Françoise Vergés e as palhaças Ana Fuchs e Daiani Brum. Este texto ainda lança um olhar específico sobre a memória na criação cênica de palhaças. Trata-se de uma pesquisa que se debruça sobre os elementos atribuídos na criação em palhaçaria, mas com foco na recente renovação de suas dramaturgias cômicas por meio de um viés feminino, feminista e subversivo.

Biografia do Autor

Fernanda Dias de Freitas Pimenta, Universidade de Brasília
Mestrado completo no Programa de Pós-graduação em Artes da Cena da Unicamp. Cursando Doutorado em Artes Cênicas na Universidade de Brasília.

Referências

CARDOSO, Manuela Castelo Branco de Oliveira. Nedda, Colombina, Matusquella e Zerpina: ensaios sobre palhaçaria e ópera. Orientador: César Lignelli. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) — Universidade de Brasilia, 2018.

CASTRO, A. V. O elogio da bobagem: palhaços no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Editora Família Bastos, 2005.

LOPES, Beth. A performance da memória. Sala Preta, v. 9, p.135-145, 2009. DOI: 10.11606/issn.2238-3867.v9i0p135-145. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57397. Acesso em: 10 dez. 2020.

LOPES, Beth. A Memória como linha de fuga para a criação do espetáculo. Teatro, ensino, teoria e prática: processos de criação: experiências contemporâneas. Org.: Fernando Aleixo, Mara Lucia Leal. Volume 3. Uberlândia: EDUFU, 2016.

ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Curitiba: Appris, 2018.

Publicado
2021-12-16
Seção
Circo e Comicidade