ASSENTAMENTOS E DESPACHOS: ENCONTROS PARA SEGUIR CAMINHANDO

  • Flávio Campos Universidade Federal de Santa Maria
  • Heloisa Corrêa Gravina Universidade Federal de Santa Maria

Resumo

Respirar. Riscar o dojo (espaço em volta do corpo). Entrar no espaço circunscrito e reconhecer os conteúdos que já estão no corpo. Dar vazão com continência e aos poucos ir reconhecendo e elaborando esses conteúdos. O que fica e o que precisa sair? O que vai para o assentamento e o que é preciso despachar para dar fluxo ao processo de criação e de autoconhecimento? Assim iniciamos e compartilhamos nossas práticas de pesquisa em artes da cena que se dão no e através do corpo. Propomos, aqui, a desmontagem do processo de disponibilização desse corpo reflexivo, no qual se elaboram os conteúdos experimentados na relação com diferentes campos de pesquisa. No caso, esses campos compreendem predominantemente saberes tradicionais afro-referenciados, como a capoeira e as religiões de matriz africana (mas não só), com os quais as pesquisadoras foram se encontrando ao longo de suas trajetórias. No momento em que novos campos de pesquisa se abriam, uma pandemia. Colapso, distância, exílio, permanência, isolamento, virtualidade, tempo, percepção, desejo, criação. Qual corpo é possível? Qual pesquisa em artes da cena é possível? E como ela pode estar em relação com o que sofre o mundo como um todo? Compartilhar esses Laboratórios como uma encruzilhada: parar, perceber, observar onde estamos e tomar o tempo para reconhecer os caminhos que se apresentam, sem precisar, ainda, escolher por qual seguir. Suspender o tempo da escolha. Desfrutar do espaço entre para revirar memórias, revisar os corpos, integrar os sentidos. Através dessa proposta, buscamos trabalhar com ferramentas conhecidas por nós (oriundas do Método Bailarino-Pesquisador-Intérprete e da Técnica Alexander) e criar dispositivos para a pesquisa em artes da cena que passem pelo autoconhecimento, pela integração dos sentidos no corpo das pesquisadoras como instância da criação e da reflexão. Dentro desse processo, a elaboração das imagens, sensações, sentimentos e movimentos é condição primordial para a criação cênica. Os conteúdos liberados ou são depositados em um lugar de afeto no espaço-corpo - assentamento, altar, tukaia, conga - ou são cuidadosamente despachados pois já cumpriram sua função. Então, como quem arruma a casa para sentar e assistir ao pôr do sol, aprontamos esse corpo para olhar o horizonte, ou além…

Biografia do Autor

Flávio Campos, Universidade Federal de Santa Maria
Bailarino-Pesquisador-Intérprete e Professor Adjunto do Curso de Dança Bacharelado da UFSM. Doutor e Mestre em Artes da Cena pela UNICAMP. Graduado em Artes Cênicas pela UNIRIO. Coordenador do Grupo de Pesquisa (CNPq) Processo BPI: formação e criação em Dança do Brasil. E integrante do Grupo de Pesquisa (CNPq) BPI e Dança do Brasil.
Heloisa Corrêa Gravina, Universidade Federal de Santa Maria

Professora adjunta do Curso de Dança Bacharelado da Universidade Federal de Santa Maria, onde integra o Núcleo de Pesquisa em Artes da Cena - NUPAC e co-coordena, com a professora Andréa Angeli, o Laboratório EspaçoCorpo - núcleo transdisciplinar de estudos em dança e terapia ocupacional. É bailarina, coreógrafa e estudante de Técnica Alexander.

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Publicado
2022-02-18
Seção
Grupo de Pesquisadores em Dança