Conjunctio oppositorum e os modos de percepção no parateatro

  • Lidia Olinto Faculdade de Artes Dulcina de Moraes

Resumo

O objetivo deste texto é analisar a noção de Conjunctio oppositorum nas propostas parateatrais, isto é, nos projetos realizados pelo Teatro Laboratório — grupo polonês liderado por Jerzy Grotowski — no período que vai de 1970 a 1982. O termo Conjunctio oppositorum foi utilizado por Jerzy Grotowski para expressar o entrelaçamento paradoxal entre estrutura e espontaneidade no trabalho cênico e geralmente é reconhecido em espetáculos cênicos em que há uma composição elaborada previamente e reproduzida diante da plateia. Esse não é o caso dos experimentos classificados como parateatrais, uma vez que neles não havia nenhuma estrutura performativa fixa, nenhuma “obra teatral” criada para ser apresentada e repetida diante de um público de espectadores, sendo todos os envolvidos obrigatoriamente participantes ativos. Tratava-se de experiências voltadas para o que Grotowski chamava de “Encontro”, isto é, um tipo de trabalho sobre si mesmo a partir do contato com o outro; sendo, por isso, a base improvisacional sua principal característica. Todavia, ainda assim a dimensão da estrutura/forma/partitura se fazia presente, configurando-se de maneiras sutis e variadas. Assim, primeiramente buscarei descrever o que foram os diversos experimentos contraculturais reunidos sob a denominação de Parateatro para, em seguida, demonstrar como na aparente “improvisação livre” modos de estruturação quase imperceptíveis conduziam o acontecimento performativo, definindo como se davam os modos de percepção e outros aspectos do trabalho sobre si.

Biografia do Autor

Lidia Olinto, Faculdade de Artes Dulcina de Moraes
Desde 2000, atua profissionalmente na área de Artes Cênicas, exercendo funções variadas: atuação, direção, dramaturgia em processos colaborativos, assessoria teórica e produção de eventos artístico-acadêmicos. Fez mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da UNICAMP e pós-doutorado pela UnB. Possui graduação em Artes Cênicas pela UNIRIO. É professora substituta no departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília e na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Brasília (pós-graduação em Direção Teatral). Em sua formação teatral, estudou com: Gustavo Gasparani e Marcelo Vale (Cia. Dos Atores), Ivan Sugaraha e Cristina Flores (Cia. Os Dezequilibrados), Briget Pannet (Royal Academy of Dramatic Arts de Londres), Benes Markes (Living Theater) e Mietek Janowski, Andrzej Paluchiewicz, Thomas Richards e Mario Biagini, ex-parceiros de Jerzy Grotowski, dentre outros mestres brasileiros.

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Publicado
2021-12-16
Seção
Artes Performativas, Modos de Percepção e Práticas de Si