Corpos, travessias e ancestralidade: assentamentos na encruzilhada

  • Doroti Ferreira Martz Universidade Estadual de Campinas

Resumo

Neste artigo será abordado a potência transatlântica que atravessa os corpos negros em diáspora como possibilidades ao corpo em performance. Debruçando sobre três dimensões que organizam e, de certa forma, desorganizam a noção dos corpos e presenças que compõe a cultura negra, proponho uma gira de pensamentos e reflexões acerca dos atravessamentos fundantes à uma cosmovisão espiralar. A primeira dimensão é a travessia enquanto lugar de processo contínuo, de redescobertas, busca de si, da coletividade e em diálogo com a ancestralidade, a travessia aqui é a dimensão que apresenta possibilidades de curas e transformação. A segunda dimensão é a encruzilhada, onde o cruzo se inicia no atlântico com um emaranhado de histórias de gentes, a cultura da diáspora negra resiste com os aprendizados das águas e o corpo inundado de memórias. A terceira dimensão é assentada na presença do orixá Exu como mobilizador de mundos, da comunicação e dono do corpo. É na relação cósmica de Exu que o corpo em diáspora se refaz, interligando os fragmentos lançados ao mar, rompendo as barreiras entre tempo e espaço, traçando rotas de fuga, frestas, sapiências e mandingas. Uma vez que lançadas as três dimensões, é possível traçar correspondências entre o visível e o invisível, conexões não lineares entre o passado, o presente e o futuro e a potência coletiva que transpassa o corpo e reverbera na performance ritual.

Biografia do Autor

Doroti Ferreira Martz, Universidade Estadual de Campinas
Mestranda em Educação na Unicamp, na linha de Linguagem em Arte e Educação, no grupo Laboratório de Estudos Audiovisuais - OLHO. Graduada em Teatro pela UFMA. Pesquisou cantos tradicionais portugueses na região do Douro em Portugal através da mobilidade acadêmica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD.

Referências

MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997.

MARTINS, Leda Maria. Oralitura da memória. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares (org.). Brasil afro-brasileiro, 2. ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

NOGUERA, Renato. A ética da serenidade: o caminho da barca e a medida da balança na filosofia de Amenemope. In: Ensaios Filosóficos. Vol. VIII – Dezembro/2013. pp. 139-155.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de janeiro: Mórula Editorial, 2019.

SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis-RJ: Vozes, 2017.

SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos sobre maneiras de se relacionar. São Paulo: Odysseus, 2007.

Publicado
2021-12-16
Seção
O Afro nas Artes Cênicas: performances afro diaspóricas em uma perspectiva de decolonização