Tradição popular em cena no contexto do teatro do real

Resumo

Os teatros do real incluem diferentes categorias: espetáculos em que os atores compartilham suas próprias histórias, teatro documentário, performances auto-biográficas e espetáculos com atores do cotidiano, ou seja, pessoas que não tiveram minimamente formação em teatro, mas que são convidadas a atuar em determinadas montagens. O que aqui chamo de atores do cotidiano pode ser considerado não atores, mas que estão atores em encenações que têm como temática justamente o universo dessas pessoas. O trabalho aqui apresentado é sobre uma futura pesquisa teórico-prática que tem como foco um processo de criação cênica, inspirado no teatro de não atores, com brincantes de uma determinada tradição popular. Partindo da experiência estética que uma tradição popular proporciona, investiga-se a possibilidade de abordar essa experiência por meio da linguagem teatral performática, de forma não idealizadora.

 

ABSTRACT

The theatre of real includes different categories: spectacle in which actors and actress share their own stories, theatre documentary, self-biographies performances, spectacle with everyday life actors, it means, people who have not had any training in theatre, but who are invited in certain playing occasions. What here I call everyday life actors can be considered non actors, but they are actors in stagings that have these people's universe as their theme. The work I introduce here is about a future theoretical-practical research which is focused in a scenic creation process, inspired by theater of non actors, with players of a certain popular tradition. Starting from an aesthetic experience which popular tradition provides, It is investigated the possibility of approaching this experience by the theatrical performance language, in a non idealistic way. 

Biografia do Autor

Juliana Ferreira Machado

Juliana Mado é mestre em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2015), com a dissertação: Performance narrativa e transmissão da experiência em dois narradores natos: Sebastião Biano e Marilene Paschoal.
Concluiu sua graduação em 2006 na mesma instituição, em Educação Artística - Artes Cênicas.

É fundadora e atuante da Cia. ju cata-histórias, com a qual vem apresentando narrações com música e espetáculos desde 2008 por dezenas de unidades do SESC e de outras instituições culturais. Em 2018 comemorou 10 anos da Cia. em uma temporada com mostra de repertório, no SESC Belenzinho.
É co-fundadora do Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, que foi contemplado pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro, PROAC Montagem, SESI Arte-educação e pôde então circular por São Paulo e pelo norte e nordeste do país.

Como educadora, trabalha no Colégio Agostiniano e na Escola Inovadora Araruna Anarê ambos em Goiânia, ministrando aulas de Arte e Teatro na Educação Infantil e Ens. Fundamental. Atuou por 2 anos no Programa Vocacional da Prefeitura de São Paulo, linguagem Literatura, com foco em performance narrativa e oralidade. Atuou também por 2 anos no Fábricas de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, como arte-educadora / corpo, trabalhando com os ciclos: Eu e o espaço, Eu e o outro e Espetáculo. Nesse último ciclo foi educadora-preparadora na montagem de 2 espetáculos: Pedrinho e Villas. Ainda como educadora trabalhou em outros projetos sócio-culturais, como a EMIA, e ministrou aulas de Artes em escolas de ensino fundamental e médio, do Estado e particular. Como arte-educadora dirigiu trabalhos em teatro e narração, como: Colcha de memórias, A Megera Domada e Cena de três vinténs.

Foi integrante do grupo de pesquisa Terreiro de investigações cênicas, da UNESP, com o qual organizou o I Colóquio Internacional O Afro Contemporâneo nas Artes Cênicas, em 2015.

É integrante do Grupo Cachuera!, um coletivo de práticas e estudos das tradições populares de música e dança do Sudeste brasileiro, com o qual realizou viagens de pesquisa do Jongo e Batuque de Umbigada, em cidades como Guaratinguetá e Piracicaba. Também com o Cachuera! participou de apresentações em eventos como a Festa do Divino da Associação Cachuera e a Bienal de Artes de São Paulo.

Participou por 4 anos do projeto de extensão da UNESP O trabalho do ator/bailarino a partir das Danças tradicionais brasileiras - Cavalo Marinho e Maracatu, com Juliana Pardo e Alício Amaral, da Cia. Mundu Rodá.

Em 2018 realizou curadoria e produção geral do Encontro e conto - Festival de narratividades, idealização sua, contemplada pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás, edital de Artes Integradas/2016. O Festival ocorreu em agosto de 2018 em Goiânia, e teve como proposição a fruição de linguagens artísticas que se valem da narrativa como elemento de discussão estética. A programação contemplou espetáculos de teatro e de dança, encontros com narradores natos, mesas de debate, grupos de narração de histórias e música, e oficina de narração de histórias.

Em 2020 realizou curadoria e produção geral do Pra ler o mundo - projeto de programação cultural diversificada para a Biblioteca do C.C. Oscar Niemeyer, em Goiânia, que aconteceu de forma totalmente online em decorrência do Covid 19. Tanto o Encontro e conto como o Pra ler o mundo contaram com o apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás / FAC.

Tem interesse em pesquisas e produções nos campos do teatro performativo, oralidade, performatividades inatas e cultura popular.

 

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Publicado
2021-12-16
Seção
Estudos da Performance