Dança e técnica Alexander: o movimento como articulador de sentidos sobre o mundo na obra coreográfica Ocupación
Resumo
Esta comunicação apresenta o processo de criação de uma obra coreográfica como recurso para pensar o movimento enquanto articulador de sentidos sobre o mundo. A obra em questão é o solo de dança contemporânea Ocupación, criado e dançado por mim com colaboração do bailarino Michel Capeletti na direção, ao longo de um ano de pós-doutorado em Buenos Aires, em 2018. Nesse trabalho, mobilizamos princípios da Técnica Alexander para elaborar dispositivos de criação. Notadamente, recorremos às noções de Inibição e Direção, conforme estabelecidas por Frederick Mathias Alexander, e a uma diretriz da técnica, que é “dar-se tempo” para que, ao inibir a resposta habitual a um estímulo, outras possibilidades de movimento possam aparecer. Como bailarina, esse processo me permitiu reconhecer, através das formas observadas no corpo, forças que me atravessam (e atravessaram ao longo da vida) e são constitutivas de minha subjetividade de mulher, branca, 40 e poucos anos, brasileira, vivendo então em Buenos Aires etc. Interessa, aqui, abordar esse processo a partir da compreensão de “observação” conforme se dá na Técnica Alexander, ou seja, não através do distanciamento e da objetificação do corpo, mas desde a própria experiência do movimento. Para tanto, articulo essa compreensão com a noção de animação (animation) de Maxine Sheets-Johnstone, através da qual se inverte a perspectiva, fundante do pensamento ocidental, de uma “mente incorporada” para pensar um “corpo consciente”. Sob esse prisma, o movimento não é algo que acontece no tempo e no espaço: ele cria seu tempo e seu espaço em ato. Narrar o processo de criação do solo Ocupación a partir dessa premissa implica entender a própria narrativa como um desdobramento do corpo em movimento e, desde esse corpo, interrogar constantemente quais mundos se criam, reiteram e atualizam, e como se articulam sentidos para esses mundos no próprio ato de dançar.Referências
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