Do quase arrependimento de se aprisionar em palavras o complexo processo de criação de uma performance: “penitencia(ria)”
Resumo
A violência esmaga possibilidades de sonhos e esperanças perpetradas por ideais de desenvolvimento social, amparados pelo universo tecnológico e religioso. Com essa “rotunda”, por meio da prática como pesquisa, discutimos complexidades dos processos de criação da performance “Penitencia(ria)” que revela no seu título, ideias dicotômicas predominantes em certas culturas e ideologias. Polos opostos e contraditórios de duas palavras similares na aparência, distanciadas em significados. Em “Penitencia(ria)” associamos nas nossas ações estes significados, via possibilidades inerentes ao fazer ético-estético. Relacionamos fazer poético, nominoso, com o enfrentamento ao mundo caótico atravessado por diferentes formas e forças violentas e ameaçadoras que se revelam em variadas expressões, ocasionando superlotações de penitenciárias. Mas seriam as prisões psíquicas que revelariam o ser humano perdido no seu mundo interior e exterior? A violência (social, de consumo, psicológica, de gênero, etária, religiosa e de raça) é uma das forças que esgotam a capacidade de compreensão do processo civilizatório, bem como recursos naturais, revelando caminhos tortuosos que nosso sistema desenhou no cerne da vida e da existência humanas. “Penitencia(ria)” é sobre a violência que assume uma materialidade tangente na sociedade. A performance poderia significar nossa vontade de tratar da violência psicológica, imaterial e que é, talvez, mais bem apreensível pelo fazer ético-estético. Esse tipo de violência então, encontraria espaço na Arte para se revelar e se materializar iluminando caminhos, posturas, atitudes e palavras que insistem em transitar pelos breus.
Referências
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