A arte do movimento na prática como pesquisa
Resumo
A mesa propõe discutir diferentes aspectos, desdobramentos e vertentes da Arte do Movimento, inicialmente estruturada por Rudolf Laban, no contexto contemporâneo da Prática como Pesquisa (Practice as Research ou PaR) e suas variações (Pesquisa Performativa, Performance como Pesquisa, Pesquisa baseada na Prática, Pesquisa guiada pela Prática etc.). Na Arte do Movimento, incluem-se principalmente aspectos dos Estudos Coreológicos e da Análise Laban/Bartenieff de/em Movimento, bem como desdobramentos como o Movimento Autêntico (Whitehouse), Estudos do Movimento Integrado (Hackney) e outros, em diálogo com as práticas artísticas (criação coreográfica, teatral e de performance, execução de dança, improvisação e atuação) e pedagógicas (pedagogia da performance, articulação professor-pesquisador-artista) desenvolvidas pelos proponentes. A PaR é uma forma de pesquisa acadêmica que tem a prática (artística/criativa) como método e/ou como produto de pesquisa. Segundo Schatzki, Knorr-Centina e Savigny (2001) este movimento faz parte de uma “virada para prática”, onde o fazer, a vivência e a experiência tem se tornado cada vez mais relevantes para a pesquisa acadêmica. Este modo de pesquisa tem sido amplamente investigado (e publicações sobre o tema datam da década de 1990 no final do século XX) para se desenvolver parâmetros e sistemáticas para se discutir diferentes modos de se fazer/criar como conhecimento especializado. No contexto da PaR, a Arte do Movimento redefine a performatividade como mover e ser co-movido por pulsões espaciais, entre matéria e energia, pausa e ebulição, integrando-se com princípios somáticos de conexões e relações afetivas, ecologia profunda e diversidade. Através de procedimentos somático-performativos, tais processos de pesquisa em artes cênicas são guiados pela vivência criativa em movimento, em imersões de experiência e análise, movimento e escrita, valorizando a inteligência do próprio processo, assim, estruturando a inovação do conhecimento de modo eminentemente dinâmico e relevante.
Referências
ADAMS, M.; CARDOSO, T.; MODINGER, C.; SASTRE, C. Propostas de uma escrita Transcriativa ou, como compartilhar o gosto de uma maçã? IN: ICLE, G. (Org). Descrever o inapreensível. São Paulo: Perspectiva, no prelo.
BARTENIEFF, I.; LEWIS, D. Body movement: coping with the environment. Langhorne: Gordon & Breach Science, 1980.
BONENFENT, Yvon. A portrait of the current state of PaR: defining an (in)discipline. In: BOYCE-TILLMAN, June (ed.). PaR for the Course: issues involved in the development of practice-based doctorates in the Performing Arts. Winchester: The Higher Education Academy Arts and Humanities, 2012.
ERNST, Bruno. Lo specchio magico di Maurits Cornelis Escher. Colônia: Benedikt, 1996.
FERNANDES, Ciane. Em Busca da Escrita com Dança: algumas abordagens metodológicas de pesquisa com prática artística. In: Dança: Revista do Programa de Pós-Graduação em Dança, Vol. 2, No 2. (2013). Salvador: UFBA, 2013. p.18-36.
FERNANDES, Ciane. Dança Cristal: Da Arte do Movimento à Abordagem Somático-Performativa. Salvador: EDUFBA, 2018.
GIL, José. O Movimento Total. O Corpo e a Dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.
GODARD, H. Gesto e percepção. In: PEREIRA, R. SOTER, S. (Orgs). Lições de Dança 3. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2001. p.11-35.
GRAY, Carole. Inquiry through practice: developing appropriate research strategies. In: No Guru, No Method?. Helsinki: UIAH, 1996.
HARTLEY, L. Wisdom of the body moving. Berkeley: North Atlantic Books, 1995.
HASEMAN, Brad. A Manifesto for Performative Research. Media International Australia incorporating Culture and Policy, theme issue "Practice-led Research” (no. 118), 2006, pp. 98-106.
ICLE, G. Estudos da Presença. Prolegômenos para a pesquisa das práticas performativas. Revista Brasileira dos Estudos da Presença. Porto Alegre, v1, n.1, p.09-27, jan-jul 2011.
KANDINSKY, Wassily. Do Espiritual na Arte e na Pintura em Particular. Trad. Álvaro Cabral, Antonio de Pádua Danesi. 3. ed. – São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2015.
LABAN, R. A vision of dynamic space. London: Laban Archives & The Falmer Press, 1984.
LABAN, Rudolf. VON. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus, 1978.
LABAN, Rudolf. Choreutics. Alton: Dance Books, 2011.
LACERDA, Pesquisa Trilogia da Arquitetura Desconstrutivista. Recife: O Autor, 2011.
LACERDA, Cláudio. Contraespaços entre Dança e Arquitetura: uma perspectiva coreológica da obra de Zaha Hadid. Tese de doutorado. Salvador: Universidade Federal da Bahia, Escola de Teatro e Escola de Dança, 2018. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/25534.
MALETIC, Vera. Body, space, expression: the development of Rudolf Laban’s movement and dance concepts. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 1987.
PAKES, Anna. Original Embodied Knowledge: the epistemology of the new in dance practice as research. In: Research in Dance Education, ano 4, vol. 2, 2003, pp. 127-149.
PAKES, Anna. Art as action or art as object? the embodiment of knowledge in practice as research. In: Working Papers in Art and Design, vol.3, 2004, pp. 1-11.
PRODANOV, Cleber. Cristiano.; FREITAS, Ernani. Cezar. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
SASTRE, C. Entre o Performar e o Aprender. Práticas performativas, Dança Improvisação e Análise Laban/Bartenieff em movimento. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Educação. 2015. 262f. Porto Alegre, 2015.
SCHECHNER, Richard. Performance. Teoria e prácticas interculturales. Buenos Aires: Libros del Rojas, 2000.
SHEETS-JOHNSTONE, Maxine. The Corporeal Turn: an interdisciplinary reader. Exeter e Charlottesville: Imprint Academic, 2009.
SCIALOM, Melina. Dramaturgia na Danna: A PrA Pr de Rudolf Laban como Base para o Trabalho Dramaturgico em Danna. Cadernos GIPE-CIT, v. 16, pp. 145-166.
WIGMAN, Mary. My Teacher Laban. In: COPELAND, R.; COHEN, M. (Eds.). What is Dance? Readings in Theory and Criticism. New York and Oxford: Oxford University Press, 1983. p. 302–305.