Direcionando a expectativa: o risco da expectativa na experiência artística

Resumo

A expectativa está entre as piores coisas para se levar a uma performance. O enredo já vem formado na cabeça do indivíduo, com uma imagem do espaço, dos performers e até dos espectadores. A produção não tem chances de acender a imaginação porque os limites já foram colocados e o desenrolar e desenvolvimento do trabalho se restringem por noções pré-concebidas que limitam a imaginação como bolhas gelatinosas. Elas turvam a percepção e o encantamento do imprevisto e do inesperado. Dada a natureza de Site-Specific, vivenciar o imediato deveria ser um fator essencial para apresentações em espaços públicos. Seja a produção site dominant, site adjusted, site specific ou site conditioned/determined, o environmental theatre, termo cunhado por Richard Schechner, quebra a quarta parede, gerando novos locais de apresentação, assim como novos locais geram novas formas de teatro. Trata-se de um espaço onde muitos elementos parecem se fundir e formas tradicionais de assistir a um espectáculo também são desafiadas. A performance permite intervenções contextuais, que podem refletir as ramificações políticas e sociais do espaço. É impossível que qualquer pessoa possa ver uma performance exatamente como o outro. Pela própria fisicalidade de novos espaços, nossas noções pré-concebidas de tempo e espaço são alteradas e a experiência com o público inclui fatores incontroláveis, como o som, que também se torna parte do espaço físico. As expectativas nos privam de ver as extraordinárias combinações da vida. Um estágio de pesquisa pós-doutoral feito com a intenção de estudar Site-Specific na paisagem urbana de Nova Iorque, com a participação em diversos programas da Gallatin School of Individualized Study, da NYU, trouxe à tona alguns resultados impressionantes e contrários ao esperado. O esperado era encontrar trabalhos que contemplassem o espaço, performer e espectador colaborando em diversos níveis através de atos de invenção, um sentido de intimidade e transformação, além de levar ao observador um sentimento de experiência social. Ann Halprin, precursora e inspiradora inadvertida do Judson Dance Movement, perguntou “Como pode a arte mudar a percepção do lugar e do indivíduo?”. Pensando de outra forma, “Como podem o lugar e o indivíduo transformar ou alterar nossa percepção de arte?”. Mais que isso, até quanto as expectativas que carregamos como espectadores aprimoram ou deterioram nossa experiência final e compreensão de uma obra?

Biografia do Autor

Holly Elizabeth Cavrell, Universidade Estadual de Campinas
Pós-doutorado na NYU. Doutora em Artes pelo Instituto de Artes da UNICAMP, graduada em Comunicação e Artes do Corpo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora do Programa de Pós-Graduação Artes da Cena da Universidade Estadual de Campinas.

Referências

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Publicado
2020-05-28
Seção
Grupo de Pesquisadores em Dança