Reflexões sobre a imaginação nos processos de criação em dança

  • Mônica Emilio Cerqueira Pereira Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

Na história das artes de modo em geral, as imagens sempre foram de fundamental importância como dispositivos de criação e como estofo para a realização artística. Este artigo pretende refletir sobre o papel da imaginação nos processos de criação em dança. Busca-se compreender a imaginação como ação, que se constitui em corpo. É possível supor que as imagens revelam-se não só no plano mental, mas nos estados corporais e movimentos, que podem ser percebidos, inicialmente, como manifestações no espaço interno do corpo e que, com diferentes qualidades expressivas, ganham forma e visibilidade no espaço externo. A imaginação como ação do corpo e no corpo manifesta-se na relação com o ambiente, com o outro e com os demais elementos de trabalho e, quando em processo de estímulos constantes, pode gerar novas possibilidades de ação em fluxo criativo. Vale destacar a relevância do trabalho com a capacidade imaginativa, que prioriza um estado de receptividade, conectividade e perceptividade com o todo. Trabalhamos com as hipóteses de que o uso da capacidade imaginativa pode contribuir para a conexão do intérprete com o movimento dançado, revelando uma qualidade específica de atenção e presença que pode interessar a diferentes seguimentos das artes do movimento. Deve-se considerar que o corpo cênico em ação está implicado em constantes atualizações de si mesmo, na experiência e no trânsito por diferentes camadas de percepção do movimento. Cabe refletir também sobre a condição variacional da imaginação e sua relação com as constantes atualizações do corpo em movimento nas criações artísticas. Com base nas contribuições da dança e do teatro, em diálogo com a somática e a filosofia, espera-se produzir reflexões sobre a relevância de um trabalho consciente e cuidadoso com o imaginário que permita ao intérprete penetrar territórios desconhecidos de si mesmo, no que se refere aos processos de criação e investigação do corpo em movimento. O texto estabelece um diálogo com o pensamento de teóricos, artistas e pesquisadores como Marie Bardet, Rudolf Laban, Constantin Stanislavski, Jerzy Grotowski, Michael Chekhov, Ciane Fernandes, Fayga Ostrower e Adriana Bittencourt.

Biografia do Autor

Mônica Emilio Cerqueira Pereira, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em Docência do Ensino Superior e bacharel em Teatro pelo Centro Universitário da Cidade. 

Referências

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Publicado
2020-05-28
Seção
Grupo de Pesquisadores em Dança