Desvelando o corpo-encruzilhada: reflexões sobre a encruzilhada como espaço de interseção
Resumo
Este texto tem como objetivo ampliar o debate em torno do corpo-encruzilhada, metáfora proposta por mim durante processo de doutoramento como possibilidade de leitura do corpo na interface entre o ritual e a cena. Para tanto, proponho aqui desvelar as questões em torno da ideia de encruzilhada e como ela opera na construção da reflexão do corpo-encruzilhada. São referências básicas para essa discussão o trabalho de pesquisadores brasileiros, como Leda Martins (1997; 2003), Eduardo Oliveira (2007), Renata Lima (2010) e Luiz Domingos (2011), além de autores africanos, como Fu-Kiau (1994), Kambegele Munanga (1999) e Mogobe Ramose (2011). Nessa direção, pretendo apresentar uma reflexão acerca da encruzilhada como espaço de interseção que engendra saberes-fazeres próprios, com perspectivas epistemológicas afro-orientadas, e que se coloca como elemento fundamental para pensar as práticas culturais e artísticas no contexto brasileiro a partir de uma perspectiva decolonial. Ao final, pretendo indicar como essa reflexão sobre a encruzilhada nos permite compreender o corpo-encruzilhada como metáfora para as artes cênicas.Referências
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável e outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1975.
DIOP, Cheikh Anta. A unidade cultural da áfrica negra: esferas do patriarcado e do matriarcado na antiguidade clássica. Portugal: Edições Pedagogo, 2014.
DOMINGOS, Luis Tomas. A visão africana em relação à natureza. In: Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá/PR. v. III, n.9, jan/2011. Disponível em: Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html. Acesso em: 21 dez. 2016.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Trad. José Lourênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileiras, 1968.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador/BA: EDUFBA, 2008.
FU-KIAU. Bunseki k. k. African cosmology of the Bântu-Kôngu: thyng the spiritual knot, principle of life and living. 2 edition. New York/EUA: Athelia Henrietta Press, 2001.
HAMPATÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (Ed.). História geral da África I: metodologia e pré-história da África. Brasília: Unesco, 2010.
KILOMBA, Grada. Descolonizando o conhecimento: uma palestra-performance de Grada Kilomba. 2015
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: o reinado do rosário do jatobá. São Paulo: Perspectiva, 1997.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo e da memória: os congados. O Percevejo – Revista de Teatro, Crítica e Estética, Rio de Janeiro, ano 11, n. 12, 2003.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Vol II. São Paulo: EDUSP, 1974.
OLIVEIRA, Eduardo David. Filosofia da ancestralidade: corpo de mito na filosofia da educação brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007.
RAMOS, Jarbas Siqueira. Notas sobre o corpo-encruzilhada: entre o ritual e a cena. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2010.
RAMOS, Jarbas Siqueira. O corpo-encruzilhada como experiência performativa no ritual congadeiro. In: Revista Brasileira de Estudos da Presença. v. 7, nº 2, 2017. p. 296-315.
RAMOSE, Mogobe B. Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana. Ensaios Filosóficos, v. 4, Out. 2011.
SCHECHNER, Richard. O que é performance? O Percevejo – Revista de Teatro, Crítica e Estética da UNIRIO. Rio de Janeiro, 2003, ano 11, nº. 12, p. 25-50.
SILVA, Renata de Lima. O corpo limiar e as encruzilhadas: a capoeira angola e os sambas de umbigada no processo de criação em dança brasileira contemporânea. Campinas, SP: [s.n], 2010. (Tese de Doutorado)
SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos sobre relacionamentos. São Paulo: Odysseus Editora, 2003.