“Quem adora as imagens adora o diabo”: Reflexões sobre iconoclastia no Brasil
Resumo
A partir de um enunciado inscrito em um muro no centro do Rio de Janeiro, este artigo pretende fazer uma reflexão sobre uma tendência iconoclasta verificável no Brasil de hoje. Dois aspectos são enfocados: em primeiro lugar, alguns exemplos do que se pode chamar de “iconoclastia neo-pentecostal” contra expressões culturais afro-brasileiras. A este respeito, analisar-se-á a reação de setores neo-pentecostais à obra Tridente de Nova Iguaçu do artista contemporâneo Alexandre Vogler, na qual a imagem de um Tridente, símbolo que pertence à iconografia das religiões afro-brasileiras, foi tomada como um símbolo diabólico. Em segundo lugar, a forte reação conservadora contra a arte contemporânea hoje no Brasil, em particular o que se observou na exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, ocorrida no Centro Cultural Santander-Porto Alegre em 2017. Neste caso, diante de acusações infundadas de “pedofilia”, “zoofilia”, “blasfêmia”, o banco patrocinador decidiu cancelar a exposição. Pretende-se sustentar que ambos fenômenos não são isolados, mas estão articulados em uma “cultura iconoclasta” de fundo religioso que domina certos setores da sociedade brasileira. Como marco teórico, evoca-se particularmente o livro L'image peut-elle tuer? no qual a autora Marie-José Mondzain retorna aos debates iconoclastas em Bizâncio para pensar a circulação das imagens na contemporaneidade.
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