"Gente Humilde": um tema, duas canções

  • Rodrigo Aparecido Vicente Universidade Estadual de Campinas

Resumo

Neste estudo, são analisadas duas versões de “Gente humilde” (Garoto), obra originalmente composta para violão que recebeu, entre 1950 e 1970, duas interpretações na forma de canção. A primeira, de autoria desconhecida, é uma narrativa em terceira pessoa que busca representar um espaço sócio-geográfico habitado pelos grupos menos favorecidos economicamente, traduzindo um imaginário para o qual esse espaço se constitui enquanto reserva de “pureza” e “felicidade”. Já na segunda versão, assinada por Vinicius de Moraes e Chico Buarque, ouve-se um momento de autorreflexão de um individuo sensibilizado com a precariedade das condições sociais de existência dos mais “humildes”, oscilando, contudo, entre uma postura mais consequente do ponto de vista político e outra marcada pela tentativa de retorno a um modo de vida comunitário. Tanto na primeira versão, narrada por uma espécie de “voz social”, quanto na segunda, que aponta para a crise de uma autoimagem orientada pelo ideal de “povo” e “nação” enquanto “totalidade”, constata-se que a condição de pobreza acaba por ser naturalizada. Neste artigo, procurar-se-á demonstrar como essa naturalização pode ser identificada a partir de uma análise formal das obras que enfatize as ambivalências e contradições inscritas em suas estruturas.

Biografia do Autor

Rodrigo Aparecido Vicente, Universidade Estadual de Campinas
Doutor em Música pela UNICAMP. Tem experiência na área de Estudos de Música Popular e História da Música Popular Brasileira. Em 2014, ingressou no curso de graduação em Filosofia da UNICAMP
Publicado
2014-04-22
Edição
Seção
Artigos