Entre o trabalho e a orgia: os vaivéns do samba nos anos 1930 e 1940

  • Adalberto Paranhos UFU

Resumo

Durante o primeiro governo Vargas, valores antinômicos circularam socialmente, como aqueles que envolviam o culto ao trabalho regular e metódico e sua negação. Isso se retratou inclusive na produção musical da época, que, de uma forma ou de outra, tomou parte ativa no debate que então se instalou e que oscilava entre a afirmação do batente e a glorificação da batucada. Se a condenação à ociosidade se assenta sobre bases que, no caso brasileiro, remontam aos primórdios do período colonial, ela, historicamente, jamais deixou de conviver com seu oposto. Afinal, nem todos os compositores se deixaram apanhar na rede da exaltação do trabalho propagado pela ideologia do trabalhismo, quando não por integrantes do front artístico nacional. Falas dissonantes repontaram aqui e ali, numa demonstração de que nunca se consegue calar por inteiro as divergências e as diferenças. É o que se propõe evidenciar este artigo, ao trabalhar com a canção (notadamente o samba) como documento histórico e investigar parte da produção fonográfica dos anos 1930 e 1940. Por fim, o que se constata é que, apesar da férrea censura dos organismos oficiais (particularmente do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda) durante o “Estado Novo”, ela não foi suficiente para que se rompessem de vez os estreitos vínculos tecidos entre o samba e a malandragem, por maiores que fossem as ambiguidades e contradições que se expressavam no interior do próprio campo da música popular brasileira.
Publicado
2012-10-05
Edição
Seção
Artigos