A retórica musical e o choro

  • Mário Sève Wanderley Lopes UNIRIO

Resumo

Este artigo tem a intenção de apontar caminhos para a análise do choro, a partir de um referencial teórico da retórica musical (CANO, 2011; BARTEL, 1997; RATNER, 1980). O texto associa alguns conceitos da retórica musical com procedimentos usados na música que surgiu no Brasil no século XIX a partir das danças que chegaram da Europa. São apresentadas as supostas origens e significados do termo choro (TINHORÃO, 1991; ARAGÃO, 2013; CAZES, 2010). São descritos os contextos do surgimento da retórica, da música poética e do desenvolvimento do sistema retórico-musical, a partir de pesquisas musicológicas em tratados barrocos (REBOUL, 2004; CANO, 2011; BUELOW, 1980). São expostas aplicações da chamada “teoria das tópicas” fora do âmbito da música barroca — incluindo-se aí o classicismo europeu (RATNER, 1980), diferentes estilos musicais brasileiros (PIEDADE, 2007) e o choro, especialmente. Por fim, são relacionados alguns conceitos e usos de figuras retóricas para propor um paralelo possível entre exemplos musicais extraídos de obras barrocas e de peças do repertorio de choros.

 

Biografia do Autor

Mário Sève Wanderley Lopes, UNIRIO

Doutorando e mestre em música (UNIRIO), com artigos publicados em congressos (ANPPOM), simpósios (Simpósio Nacional Villa-Lobos e SIMPOM) e revistas (Debates n. 14 e 17). Escreveu os livros Vocabulário do Choro, Songbook Choro e Choro Duetos. É saxofonista, flautista, compositor, arranjador e integrante dos quintetos Nó em Pingo D´Água, Aquarela Carioca e do grupo de Paulinho da Viola. Idealizou e dirigiu o festival Riochoro e diversas séries nos CCBBs. Gravou os cds Bach & Pixinguinha, Choros, por que sax?, Pixinguinha + Benedito, Casa de todo mundo e Canción necesaria, e o dvd Samba errante. Tem obras gravadas por Monica Salmaso, Roberta Sá, Carol Saboya, Suzie Franco, Mauro Aguiar, Berkeley Choro Ensemble e Cecilia Stanzione. Atuou como instrumentista com Ney Matogrosso, Alceu Valença, Guinga, Zeca Pagodinho etc.

Referências

ALMADA, Carlos. A estrutura do choro: com aplicações na improvisação e no arranjo. Rio de Janeiro: Da Fonseca, 2006.

ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. São Paulo: Livraria Martins, 1942.

ARAGÃO, Pedro. O baú do Animal: Alexandre Gonçalves Pinto e o choro. Rio de Janeiro: Livraria e Edições Folha Seca, 2013.

BARENBOIM, Daniel. A música desperta o tempo. São Paulo: Martins Editora, 2009.

BARTEL, Dietrich. Musica poetica: musical-rethorical figures in German baroque music. U.S.A: University of Nebraska Press, 1997.

BUELOW, George J. Rhetoric and music. In: The New Grove Dictionary of Music And Musicians. London: Macmillan Publishers Limited, 1980. Vol. 15; p. 793–803.

CANO, Rúben López. Música y retórica en el barroco. Barcelona, Espanha: Amalgama Edicions, 2011.

CARRASQUEIRA, Maria José. O melhor de Pixinguinha: melodias e cifras. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale, 1997.

CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 2010.

CURY, Thiago, MACHADO, Cacá. Todo Nazareth: obras completas: F–O: tangos, vol. 2. São Paulo: Água Forte Edições Musicais, 2011.

DESCARTES, René. As paixões da alma. In: Os pensadores: Descartes. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

HARNONCOURT, Nikolaus. O discurso dos sons: caminhos para uma nova compreensão musical. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

KIEFER, Bruno. A modinha e o lundu: duas raízes da música popular brasileira. Porto Alegre: Editora Movimento, 1986.

KOOGAN, Abrahão; HOUAISS, Antônio. Enciclopédia e dicionário ilustrado. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,1993

LEMOS, Maya Suemi. Apostila da disciplina História da música e musicologia: tópicos sobre a música medieval, renascentista e barroca. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2015.

______. Retórica e elaboração musical no período barroco: condições e problemas no uso das categorias da retórica no discurso crítico. Per Musi, Belo Horizonte, n. 17, 2008, p.48–53.

PIEDADE. Acácio Tadeu. Expressão e sentido na música brasileira: retórica e análise musical. Revista eletrônica de musicologia. Volume XI, set. 2007.

PIEDADE, Acácio Tadeu; FALQUEIRO, Allan Medeiros. A retórica musical da MPB: uma análise de duas canções brasileiras. In: XVII Congresso da ANPPOM. Anais do Congresso, 2007.

PINTO, Alexandre Gonçalves. O choro: reminiscências dos chorões antigos. Rio de Janeiro: Typ. Glória, 1936.

QUANTZ, Johann Joachim. On playing the flute. Tradução Edward R. Reilly. 2nd ed. Boston, USA: Northeastern University Press, 2001.

RATNER, Leonard G. Classic music: expression, form and style. USA: Schirmer Books, 1980.

REBOUL, Oliver. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

ROSEN, Charles. The classical style: Haydn, Mozart, Beethoven. New York, USA: W. W. Norton & Company, 1997.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.

SEVERIANO, Jairo. Uma História da Música Popular Brasileira: das origens à modernidade. São Paulo: Editora 34, 2009.

SIQUEIRA, Baptista. Três vultos históricos da música brasileira. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1969.

SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.

TAGG, Phillip. Melody and accompaniment. Encyclopedia of Popular Music of the World (EPMOW), p. 1-24. Disponível em <http://tagg.org/articles/xpdfs/melodaccUS.pdf> Acesso em: 8 mai. 2015.

TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular: da Modinha à Lambada. São Paulo: Art Editora, 1991.

ULHÔA, Martha Tupinambá de. Entrevista com Philip Tagg. Debates: Cadernos do Programa de Pós-graduação em Música, Rio de Janeiro, n. 3, março, p. 81–96, 1999.

Publicado
2019-08-29