Galope de Shakespeare: a canção popular brasileira e a apropriação não canônica do cânone

Resumo

Este artigo visa levar adiante uma reflexão a respeito da motivação pela escolha e forma de abordagem a uma obra canônica, o Julius Caesar de Shakespeare, como base para o espetáculo A Paixão de Brutus, um solo escrito e atuado pelo autor do artigo e dirigido por Norberto Presta entre 2017 e 2018. Após uma breve revisão de problemas teóricos e históricos que tocam o conceito de cânone, examinaremos o significado de uma leitura não canônica da obra Shakespeareana, e da pertinência do conceito de Antropofagia Cutural, como elaborado por Oswald de Andrade para realizar esta leitura, estabelecendo um diálogo entre o texto e as questões de nosso tempo e sociedade. O crítico literário Antônio Cândido sugere que a característica da sociedade é revelada numa obra quando esta capta o ritmo, ou ritmos, da sociedade que retrata. Em A Paixão de Brutus, que foi o momento inaugural da pesquisa do Teatro-Canção, foco da pesquisa de doutoramento do autor deste artigo, lançamos mão de ritmos brasileiros para nortear nosso diálogo antropofágico comas questões que nos sugere Shakespeare.