Toda dança faz parte da história da dança? A predominância das danças ocidentais hegemônicas nos espaços cênicos

  • Julia Baker UNICAMP
  • Josie BEREZIN

Resumo

Observa-se, no contexto cultural da dança, o discurso dominante da historiografia tradicional ocidental. Isto é, pensando nas escritas da história e nas suas formas de contar e elaborar o passado, percebe-se que elas quase sempre compreendem as danças clássicas originadas na corte francesa, e as danças modernas/contemporâneas da tradição norte-americana e europeia (todas elas, danças cênicas) como danças mais valorizadas. Neste discurso dominante, parece haver uma linha do tempo evolutiva, em que as danças populares e não-europeias estão numa posição anterior às danças cênicas ocidentais. Na prática, danças não-europeias como as danças sociais, urbanas, afro-brasileiras, ou mesmo as chamadas “danças étnicas” têm relevância menor e estão à margem desta cultura dominante: sofrem discriminação em muitos processos seletivos de mostras e festivais ainda hoje, e não gozam dos mesmos prestígios e status das danças acadêmicas, as quais se assiste com frequência em grandes festivais de dança, e até mesmo se observa/ pratica nos centros de ensino e cursos universitários. Dessa forma, as danças não pertencentes à cultura da civilização ocidental dominante são menos reconhecidas dentro do campo formal das artes cênicas (festivais, palco, concursos, seminários, para nomear alguns desses espaços) e são vistas como à parte da dança dita universal, por uma questão de má compreensão dos valores de sistemas culturais diferentes. É preciso não naturalizar esse fato e reconhecer que isso se trata de uma herança do pensamento colonial. Partindo dos pontos levantados aqui: como a história da dança cria narrativas a partir de valores do Norte hegemônico e dominante? O artigo em questão apresenta espaços nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro nos quais podemos comprovar o domínio da narrativa hegemônica da dança, e analisa momentos em que o mesmo espaço cênico foi ocupado por danças acadêmicas e também outras danças, com maior enfoque nas danças sociais. O artigo aponta, assim, para os problemas e levanta questionamentos sobre a circulação da dança nos palcos.


Publicado
2021-09-14
Edição
Seção
Textos Completos - Artigos e Ensaios